A greve é uma arma política importante. A greve geral, essa é demasiado importante para ser utilizada com insustentável leveza. Quando a CGTP avançou com a declaração de greve geral para o dia 30 de Maio sem que tal decisão fosse unânime no conjunto dos dirigentes que a tomaram, pensei em duas hipóteses explicativas. Ou a ortodoxia dominante na força política maioritária na central sindical resolveu fazer um exercício prático sobre a sua capacidade real de mobilização no actual contexto político, perigoso mas preparador de outras futuras acções a que a próxima presidência portuguesa da UE não será estranha, ou a ilusão vanguardista se aproxima perigosamente de um quadro de esquizofrenia política, com uma confusão perfeitamente paranóide da realidade com um conjunto de ficções políticas que, nos últimos tempos, têm perpassado o espectro político da oposição ao actual Governo.
A questão do novo aeroporto e da sua localização constitui o perfeito paradigma, mas não o único. Desde miúdo, já lá vão algumas décadas, que ouço falar da localização do futuro aeroporto de Lisboa. Durante anos a hipótese alternativa mais falada era a de Rio Frio. Por razões ambientais que, note-se, hoje ninguém contesta, esta localização foi abandonada. Cresceu a hipótese da Ota, até porque se trata de uma das mais importantes bases aéreas portuguesas, com muitas das infraestruturas básicas necessárias a um aeroporto já existentes. Governos atrás de governos trabalharam a hipótese Ota, o projecto foi avançando sem contestação técnico-científica perceptível. De repente, porque supostamente alguns ventos políticos teriam mudado de orientação, tira-se a contestação à Ota da gaveta: nunca vi tantos dizerem tanta asneira sobre tão pouco. Admira-me, por exemplo, a capacidade do Instituto Superior Técnico e escolas similares produzirem tantos e tão polimórficos peritos, capazes de dizerem amanhã o contrário do que afirmam hoje, com base em pretensos estudos que nunca surgem claramente à luz do dia. Essa gente sabe de aeroportos, comboios, autocarros, táxis, sap’s, urgências, maternidades e, de certeza, ainda mandará palpites sobre o tratamento da gripe das aves…
Um factotum do PSD, Relvas de apelido, lembrou–se de abrir, na sessão comemorativa do 25 de Abril, uma nova frente de luta – a da ameaça às liberdades democráticas por um Governo supostamente aparentado com o Big Brother, o do Orwell, não o dos cretinos, ansioso pelo controlo de polícias e tribunais e por calar protestos, justificados ou não. Lá para o Norte, uma zelosa senhora da Direcção Regional da educação resolveu ajudar à missa, qual papisa fora de época, e, perdendo uma das prováveis melhores oportunidades da sua vida para estar quieta, suspendeu e instaurou um processo disciplinar a um docente que terá proferido frases menos simpáticas para com o primeiro ministro. A senhorinha ainda não se demitiu, mas pergunto: quem, neste país, nunca insultou, no seu íntimo ou no círculo de amizades próximas, um primeiro-ministro? Será que, se pudesse, a senhorita instauraria processos disciplinares a todos nós, aos dez milhões de almas lusas que não resistiram, uma vez que fosse, à tentação de dizer mal do poder? Não fôramos portugueses, carago!
No meio disto tudo a greve “geral”. Não me interessa a luta dos números, valem o que valem e dependem do modo como se contabilizam as paralisações dos diferentes serviços. Não interessa, aqui e agora, se, porventura, alguns sectores específicos têm razão para um descontentamento mais acentuado que justifique a paralisação. Mas “geral”, meus senhores? Na CGTP não conhecem Sergei Sergeyevich Prokofiev, nascido em Sontovska, na Ucrânia, em 23 de Abril de 1891 e falecido em Moscovo em 5 de Março de 1953? É que Prokofiev escreveu, em 1934, uma série de peças musicais para crianças, entre as quais a mais conhecida se chama Pedro e o Lobo. O Pedro era uma criança que se divertia a chamar por socorro, com falsos alarmes de que se aproximava o lobo para comer as ovelhas da aldeia. Tantos falsos alarmes levaram a que, ao fim de algum tempo, ninguém ligasse aos gritos do Pedro. E o lobo veio e comeu as ovelhas e matou o Pedro. Era uma vez? Não queiram que aconteça outra vez…
Sindicato critica novos horários de entrada em Neves-Corvo, Somincor garante que não houve “reações negativas”
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM) critica os novos horários de entrada dos funcionários na mina de Neves-Corvo, no concelho de Castro Verde,