Nunca têm palavras que cheguem para dizerem o que sentem. Mesmo que leiam todos os grandes poetas não encontram as que lhes faltam. Quanto muito encontram parecenças, rumores, induções, vislumbres.
Melhor dizendo, as palavras de que precisam não existem. E as que há, as que encontram no dicionário na pressa dos dedos, são poucas, vagas, pequenas, frágeis, insuficientes, tão frias.
Nada do que já foi dito em toda a eternidade chega para se explicarem um ao outro. Conceitos, imagens, ideias, nascem dentro deles. Coisas mentais que explodem no peito, doces, com asas, às cores, que voam desalmadamente garganta acima, mas que emudecem na boca porque a boca morre de espanto antes de lhes dar voz.
Podem ver filmes que fazem chorar, podem ler a grande literatura romântica, podem ouvir as mais belas baladas, podem tentar perceber a psicologia do amor, que nada chega!
Não há metáforas, nem personificações, nem sequer hipérboles, que se aproximem, nem ao de leve, do sentido que eles querem que as palavras tenham.
Os lábios comeram o alfabeto aos beijos!
E assim só os olhos falam. Mas falam naquela língua misteriosa que os olhos usam quando estão apaixonados. Dizendo silêncios aos gritos. Entoando sinfonias. E nem pestanejam porque a voz lhes sai de rompante pela garganta das pupilas.
Para além deles não há nada. Nem tempo, nem chão, nem altura. Apenas e só duas bocas onde as línguas tocam no céu como rouxinóis felizes.
Sabem-se de cor. Os dedos já estudaram o corpo todo.
As mãos não são capazes de largar as mãos quando se deixam à tarde. Os pulsos têm quatro algemas fechadas e os dedos largam-se, a muito custo, lentamente num beijo demorado de unhas. O mundo parece acabar, o mundo parece acabar depois do último abraço. O mundo morre se ele a deixar partir antes de outro beijo e o coração dela não sossega se não lhe fizer outra festa nos caracóis. E ela volta-se e corre para ele e beija-o e mergulha nos seus olhos felizes.
E enquanto se afasta dele, ela vira-se novamente e faz-lhe adeus e sorri muito e os dentes são brancos e o rosto é belo e o queixo é perfeito e o nariz é bem feito e os olhos são estonteantes e os cabelos esvoaçam e o corpo treme e a boca diz amo-te.
E os lábios são vermelhos como sangue por se terem separado.
É só uma noite, dirão. Mas para os namorados, uma noite é um tempo desmedido, horas infinitas, terríveis angústias. A ausência do outro é uma dor insuportável. É uma dor que só se alivia com mais uma mensagem, um telefonema, um poema. Uma noite é um inferno de saudades sem sono deitadas no escuro.
E de manhã, atravessado o deserto de nostalgia, quando se encontram e se olham, dizem palavras um ao outro ao ouvido.
E abraçam-se até a campainha da escola tocar.

Eduardo Moreira apresenta novo livro em Aljustrel
A Biblioteca Municipal de Aljustrel recebe neste sábado, 9, a apresentação do novo livro de Eduardo Moreira, intitulado Aljustrel – 5000 mil anos de história,