Oposições <br>e boda cigana

João Espinho

1. Na minha anterior crónica, a que dei o título de “Um ano cheio de nada!” (Correio Alentejo Nº 28 – 13/10/2006), tentei abordar a actuação do executivo da Câmara Municipal de Beja no primeiro ano do mandato iniciado em Outubro de 2005. Gostaria agora de aflorar o papel da oposição durante este período, tarefa que poderá apresentar algumas dificuldades pois nem sempre é fácil escrever em causa própria, pelo que tentarei, de forma mais ou menos autónoma, analisar o exercício da oposição ao actual executivo.
Começo por afirmar que foi acertada a decisão dos quatro vereadores (três do PS e um do PSD) em não aceitar pelouros. A CDU foi a força maioritária e deverá ser ela a governar os destinos do concelho. Mas com algumas limitações, como adiante se verá.
Questiona-se que papel deverão ter os vereadores da oposição.
Julgo que, em primeiro lugar, serão “fiscalizadores” da actividade do executivo e, simultaneamente, geradores de debate sobre as propostas que o município local pretenda levar a cabo. E aqui a oposição tem dois caminhos a seguir: ou faz oposição por antecipação ou fá-la por reacção. Quer isto dizer que, ou é a própria oposição a marcar o compasso da governação ou, em alternativa, ir a reboque das decisões camarárias.
Este papel não é fácil de desempenhar, pois a regularidade quinzenal das reuniões camarárias e os próprios assuntos que aí são tratados não dão margem de manobra para que a oposição possa “brilhar”. Acredito que os vereadores da oposição desconheçam a maior parte do que se vai passando na Câmara e que algumas das acções desta só cheguem ao seu conhecimento através da comunicação social.
Para além disso, a oposição não actua em bloco, PS e PSD não têm estratégias comuns, se é que algum destes partidos tem uma estratégia enquanto força opositora à CDU na Câmara Municipal de Beja e as recentes queixas que lhes ouvimos cairão – se não caíram já – em saco roto.
A acção opositora ao executivo comunista não existiu durante este primeiro ano de mandato e foi, não se duvide, na Assembleia Municipal (AM) que se assistiu ao exercício de contraposição, quer pelas intervenções de munícipes, quer pelos representantes do PS e do PSD. Só que a aritmética não falha: a CDU detém a maioria absoluta na AM e qualquer proposta ou diploma do executivo verão sempre luz verde neste órgão, pelo que a oposição será, só, um processo de boas intenções e pouco mais.
Perguntarão, pois, alguns leitores (e eleitores): o que é que fazem os vereadores da oposição? A resposta caberá aos próprios vereadores – de que desconhecemos a maior parte das iniciativas – mas, na minha óptica, eles deveriam fazer isso mesmo: oposição ao executivo, reprovando aquilo que considerassem inútil ou prejudicial para o desenvolvimento da região e, simultaneamente, fazendo aprovar as propostas que tenham em vista o bem estar dos munícipes. Só que, como referi, a oposição não tem uma estratégia comum. Apesar da aritmética nos dizer que a oposição é maioritária.
Será, pois, com redobrado interesse que verei qual o posicionamento de PS e PSD na elaboração do Orçamento para 2007 e que propostas serão avançadas por estes dois partidos para constarem no Plano de Actividades para o próximo ano.
Diz-me a experiência que algumas das sugestões da oposição serão aceites, de forma a permitir que os documentos sejam aprovados em sede de executivo, mesmo que as garantias da sua execução não passem de mais uma promessa. Tem sido assim e assim vai continuar a ser. O exercício de oposição em executivos tricolores não é faina fácil, principalmente quando se navega sem um rumo determinado e sem uma estratégia concertada. Se um dia PS e PSD compreenderem a força dos votos que recebem nas urnas talvez a cidade e a região conheçam um novo rumo. E a oposição também.

2 – A boda cigana, que teve lugar no parque de estacionamento da piscina coberta, deixou perplexos muitos bejenses, que não compreendem as razões que levaram a autarquia a autorizar a utilização daquele espaço para uma festa que, sabia-se à partida, iria originar atritos e insegurança.
Sabemos do bom acolhimento que a política de inclusão social – principalmente quando se trate de indivíduos de etnia cigana – tem por parte dos sucessivos executivos comunistas na Câmara Municipal de Beja. Conhecemos tudo o que tem sido feito – facilidades para a venda de artigos falsificados, habitação a custo zero – para que a comunidade cigana se integre na sociedade. Há, porém, uma questão a que os nossos doutos técnicos não conseguem responder: têm os ciganos vontade de se incluir numa sociedade que não respeitam e que não comunga dos seus interesses culturais?
Muitas mais perguntas se poderiam colocar, mas falar sobre a etnia cigana é quase um tabu que, normalmente, provoca o lado hipócrita daqueles que se escudam nas acusações de racismo e xenofobia aos que arriscam abordar o assunto.
É verdade que também os ciganos têm direitos, mas não nos obriguem a abdicar dos nossos em nome de uma falsa política de inclusão social.

<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
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