Os Jogos Olímpicos de 2008 estão à porta. Faltam cerca de cinco meses para o seu início que está marcado para 8 de Agosto. O problema está em que a sua organização tenha sido entregue à China. Um país que não respeita os Direitos Humanos e que quer, obviamente, aproveitar o evento para dar, de si, uma imagem mais positiva ao mundo — isto é: pretensamente positiva, porque ardilosa.
A astúcia amarela já é conhecida do mundo desde os tempos de Mao Tsé Tung, mas tem agora maior evidência noticiosa nos acontecimentos do Tibete. O Tibete constituiu-se Estado unificado no século VII, e assim se manteve durante 600 anos, até ser subjugado pelos mongóis em 1207. Mais tarde os imperadores Qing estenderam o domínio chinês sobre aquela região, o que, como é natural, nunca foi aceite pelos tibetanos que jamais deixaram de ser hostis à presença chinesa. Em 1912, com a ajuda dos ingleses, os tibetanos libertaram-se do domínio da China. Mas já estava em marcha, no maior e mais populoso país do mundo, uma rebelião iniciada em 1911 com um motim das tropas chinesas que, após várias vicissitudes, culminou, em 1949, com a proclamação da República Popular da China por Mao Tsé Tung. No ano seguinte, o exército de Mao ocupou a região do Tibete, e o Dalai Lama (líder espiritual dos tibetanos desde o século XVII) acabou por se exilar na Índia em 1959 escapando às ameaças e perseguições chinesas. O Governo de Mao enviou colonos para o Tibete em número tão elevado que a região acabou por ter uma população com mais colonos do que tibetanos, reduzindo-os a uma minoria na sua própria terra (o mesmo fez Suharto em Timor após a invasão). O Tibete acabou por receber o estatuto de região autónoma em 1965, mas os tibetanos, inconformados com tal estatuto, nunca deixaram de lutar pela conquista do Estado que já foram, considerando os chineses uma força invasora estrangeira.
Neste momento preside aos destinos da China um homem (Hu Jintao) que há 20 anos esteve à frente da repressão aos tibetanos e que fomentou condições materiais para radicar mais colonos chineses na região. Os jornalistas estrangeiros estão proibidos de entrar no Tibete e há provas de que os revoltosos detidos são vítimas de maus-tratos e tortura. Perante esta realidade histórica e os acontecimentos recentes, o mundo nada faz. Espera para ver o que acontece, porque a diplomacia é hipócrita e tem mais interesses nos negócios com a China do que no humanitário fim da ocupação do Tibete e da justa pretensão que os tibetanos têm de serem donos dos seus destinos.
Hoje há vozes que sugerem o boicote às Olimpíadas de 2008 como forma de mostrar o desagrado do mundo perante o desrespeito que a China demonstra pelos seres humanos, o qual se espelha no Tibete. A par dos interesses diplomáticos contra o boicote (os quais são sempre muito mais capitalistas do que humanistas), contam-se os interesses desportivos dos vários comités olímpicos que intervêm nos jogos. E entre estes instala-se a defesa de que as Olimpíadas devem ser realizadas por respeito aos atletas que se preparam desde há quatro anos e que, por isso, não podem ver goradas as suas expectativas. Mas esses defensores esquecem os interesses dos tibetanos, que se preparam há muitos mais anos para conquistarem a independência que lhes foi roubada, que são em maior número do que os jogadores olímpicos, e que continuam a vêr goradas as suas justas pretensões no sentido de lhes ser restituída a nação usurpada pelo vizinho invasor.
Isto coloca-nos perante a velha questão: o que são os Jogos Olímpicos se não um pacote de interesses políticos e económicos mascarados com o rótulo do desporto? Os Jogos Olímpicos misturam símbolos pátrios — como bandeiras e hinos nacionais heróicos —, com a prática desportiva, transformando o espectáculo das competições “numa espécie de Disneylandia da política internacional”, como disse a jornalista espanhola Rosa Montero (“El País”, 19/9/2000).
Os justos interesses dos tibetanos, a sua paz, a sua independência, valem mais do que a farsa dos Jogos Olímpicos, e não se pode separar a política dos politizados jogos que Pierre de Coubertin pretendeu ressuscitar das cinzas da velha e mítica Atenas, em 1896, e que enfermam de todos os defeitos (embora também tenham virtudes) que fazem a espécie humana.
Por isso proclamo: entre as Olimpíadas na China e a independência do Tibete… Viva o Tibete!
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