Os livros e filmes de Woody Allen sempre tiveram o condão de me reconciliar com a vida. Foram muitas as vezes em que os guardei para posteriores leituras ou visionamentos e que, tal como reservamos um bom vinho ou uma boa vitualha para uma ocasião especial, eu guardava-os para saborear no momento certo. Algumas vezes adiei meses, muitos meses, a leitura de algum desses livros, e também aconteceu acabar por ver um filme não no cinema, mas já em vídeo, ou DVD, para atrasar o efeito benéfico que tenho a certeza vão produzir sobre o meu humor. Esta confiança cega, tenho que confessar, até hoje nunca foi traída, e apesar de nalguns, poucos, casos o efeito não ter sido instantâneo, acabava sempre por produzir grande satisfação física, psíquica e intelectual. Pelo menos um dos seus livros, foi lido muito lentamente, de forma a prolongar o mais possível a presença amiga, mas rara do autor. Mantenho este tipo de relação com alguns outros escritores e realizadores, mas com a simultaneidade de livros e filmes só com ele.
Tudo isto vem a propósito do seu último filme, que estreou muito recentemente em Portugal e que conta a história de um escritor de relativo sucesso que de repente vê tudo posto em causa, quando numa viagem a Paris é transportado depois da meia-noite em viagens no tempo, para a época de ouro da Cidade Luz, no período entre as duas grandes guerras, e lhe é permitido conviver com os grandes artistas dessa altura: Hemingway, Scott Fitzgerald e a sua mulher Zelda, Dali, Picasso, Gertrude Stein, Buñuel, T.S. Elliot, todos perfeitamente retratados como caricaturas deles próprios e dos estereótipos construídos ao longo das décadas. Este magnífico argumento, com um conjunto de actores absolutamente notável, e irrepreensivelmente dirigido, teve o efeito do costume sobre a minha pessoa, com a vantagem adicional da mensagem que subrepticiamente nos deixa o génio de Woody Allen ser muito actual: “A melhor época para cada um viver é aquela que lhe coube em sorte”.
Independentemente dos problemas, dificuldades, obstáculos e todas as desgraças que nos sejam servidas, é nossa obrigação lutar por uma vida melhor, e que essa luta não terá sentido se por arrasto não melhorar também a dos que nos rodeiam. O tempo de cada um terá que ser sempre o tempo de todos.
Obras de pavimentação de ruas em três localidades de Ourique
A Câmara de Ourique vai avançar com obras de pavimentação de várias ruas na sede de concelho e nas localidades de Aldeia de Palheiros e