Ora aí esta! O fado é finalmente, e oficialmente, Património Imaterial da Humanidade, reconhecido pela Unesco. A canção nacional por excelência assume assim o mesmo estatuto que o tango argentino e o flamenco andaluz já detinham e aos quais nada fica a dever, diga-se.
Aliás, o fado já não cabia em Lisboa. Talvez já não coubesse mesmo no país.
Em Agosto e em Setembro fiz dois fins-de-semana prolongados na nossa capital. Fi-lo como turista, no esquema do “vá para fora cá dentro”, e percorri as rotas, os monumentos e alguns museus da capital e dos concelhos mais próximos.
A principal conclusão que tirei é que Lisboa, nos últimos quatro ou cinco anos, se tornou numa verdadeira cidade turística da Europa, ao nível de outras grandes capitais. O salto no número de visitantes foi enorme. Infelizmente algumas estruturas não acompanharam o “boom” turístico que a nossa capital conheceu, nomeadamente a oferta qualitativa e quantitativa de transportes públicos, que fica muito aquém do que conheço noutros pontos da Europa (a mesma que o aprendiz de ministro Álvaro Santos Pereira quer diminuir drasticamente).
Mas Lisboa mudou. E mudou turisticamente para melhor. Para além da riqueza cultural, patrimonial e gastronómica do nosso país, outro factor tem sido decisivo, na minha opinião para promover a nossa capital e, consequentemente, o bom nome do nosso país: O fado, claro!
O fado é nosso mas deve ser um produto a exportar cada vez mais. O fado traz turistas aos milhares, e o turismo é um dos poucos sectores de actividade económica em que somos realmente competitivos.
Saibamos levá-lo para fora. Neste mundo globalizado em que a Internet e uma aviação a preços muito mais acessíveis que no passado recente, quebraram quase todas as fronteiras entre povos, o fado deve encher-nos de orgulho e dar a conhecer ao mundo o que Portugal tem de melhor e de mais bonito. Cantar o fado é promover Portugal. Contar, a cantar, as nossas melhores tradições. Revelar a nossa alma. O nosso desígnio colectivo enquanto povo.
Mariza tem sido capaz de encher salas por esse mundo fora, de Tokyo a Nova Iorque; de Sarajevo ao Rock in Rio. Expressão maior do fado depois de Amália nos palcos do mundo, espero que esta distinção atribuída ao fado, abra mais portas além fronteiras a outros grandes fadistas nacionais.
Com este reconhecimento agora atribuído aumenta também, e muito, a nossa responsabilidade.
A candidatura do fado, aprovada por unanimidade pelo júri avaliador da Unesco, brilhantemente coordenada do ponto de vista científico pelo prof. Rui Vieira Nery, indica-nos ainda que o nosso país apresenta candidaturas de grande qualidade e bem fundamentadas junto dos organismos competentes para decisão, sempre que o faz.
Foi assim com a Expo 98, com o Euro 2004 e com o Mundial 2018, em que ficámos, na candidatura ibérica, logo atrás da Rússia. Portugal tem valor e sabe fazer tão bem como os melhores. Está, também por isso, de parabéns.
Agradeço, como cidadão nacional, aos envolvidos neste processo de elevação do fado a um patamar superior da cultura mundial. Obrigado aos coordenadores científicos e técnicos da candidatura. Aos políticos envolvidos, com destaque para António Costa. Ao Museu do Fado e aos seus responsáveis que souberam envolver tanta gente na defesa deste projecto. À RTP, televisão pública, que desde a primeira hora promoveu junto dos portugueses esta candidatura, prestando serviço público de qualidade ao qual já nos habituou. E claro, aos verdadeiros obreiros desta feliz hora para Portugal, os nossos e as nossas fadistas e guitarristas. A gente que fez e que faz o fado e que merece este reconhecimento. No dia 27 de Novembro de 2011 o fado deixou de ser só nosso: passou a ser da Humanidade.
Aguardo com expectativa a intervenção do sempre presente e interventivo primeiro-ministro e porta-voz da pátria, dr. Miguel Relvas, (face aos desaparecimentos da cena política de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas) sobre o assunto. Mais ainda por se tratar do líder de um governo que despromoveu a Cultura, limitando-a a uma singela Secretaria de Estado. O resultado positivo desta candidatura vem apenas confirmar que foi um erro. E que a cultura merecia um ministério.

GBH e Onslaught no Mira Fest em Odemira
Os britânicos GBH e Onslaught, assim como os portugueses Mata Ratos e Corpus Christii, são algumas das bandas confirmadas na edição deste ano do Mira