Bem sei que em política as questões de personalidade devem ficar de lado, preferindo-se as críticas às medidas e aos programas.
Bem sei que relativamente ao anterior primeiro-ministro essa regra não foi seguida, com consecutivos ataques ao carácter da pessoa.
Também sei que os cidadãos simpatizam mais com algumas pessoas do que com outras. É dessa forma que se estabelecem círculos de amizade ao longo da vida.
No caso dos políticos a questão é mais complicada. Para além de existir uma desconfiança à partida, a opinião pública vai depois desenvolver análises em função do que lhes é dado pelos políticos. E quando digo “dado”, refiro-me a simpatia, postura institucional, empatia com os cidadãos e medidas que pretendam resolver os problemas e não agravá-los.
Por isso, e seguindo este quadro de pensamento, há desde logo dois ministros pelos quais não nutro qualquer simpatia. Os primeiros seis meses de Governo vieram confirmar a imagem que tinha do primeiro-ministro, dr. Miguel Relvas. A reacção que teve, no exterior, aos apupos e vaias no Congresso da Anafre serviriam para desfazer algumas dúvidas caso ainda as tivesse.
Mas debrucemo-nos sobre um dos maiores fenómenos da política portuguesa dos últimos anos: o Álvaro, super-ministro de tudo e mais alguma coisa.
O Álvaro chegou ao Governo porque escreveu um livro a falar mal da anterior governação. Condição ideal e indicada para se chegar a ministro no actual Governo. Com o estatuto de “craque” de professor universitário, no Canadá, especialista em Economia, foram-lhe entregues várias pastas. O resultado está à vista: a concertação social já era! Sem condições para acordar o que quer que seja com os sindicatos; sem condições para agradar inteiramente aos patrões como seria suposto num neo-liberal convicto e praticante.
Começou com a trapalhada da taxa social única que queria reduzir drasticamente, sem se preocupar com a segurança social do futuro, e que ficou em nada. Entrada de leão, saída de cordeiro. Com os feriados é o que se vê, agora é que o país vai produzir como nunca. Se eu fosse alemão, sueco ou dinamarquês, estaria já a tremer só de pensar no que Portugal vai produzir a mais com o fim de três dias úteis de descanso generalizado por ano.
Já agora: se o país ganhar 1% ou 1,5% em produtividade por ano, fruto dos dias que vai trabalhar a mais face ao passado, porque não reflectir esse ganho nos salários de quem trabalha e aumentar os empregados do sector público e do sector privado na percentagem correspondente? Parecer-me-ia inteiramente justo.
Agora o Álvaro quer retirar três dias de férias suplementares aos trabalhadores do sector privado que os conquistam se não derem qualquer falta no ano anterior, como de um prémio de assiduidade se tratasse. Vai uma aposta que a partir daqui as faltas passam a aumentar exponencialmente no privado e que a produtividade ainda cai?
Mas a pérola do ministro é a questão da “meia hora”. Mais meia hora por dia. Mais duas horas e meia por semana. Mais 10 horas por mês. Mais 110 horas por ano. Para produzir no que neste momento não se consegue vender. Para atirar mais pessoas para o desemprego. Numa sociedade em que, fruto do ritmo de vida, o trabalho empenhado, sério e rigoroso deve ser cada vez mais intervalado com tempo de lazer. Com tempo para a família. Com tempo para os amigos. Com tempo para que as pessoas se sintam bem e para que possam trabalhar com gosto redobrado. É uma proposta tão má que nem os patrões a querem.
O ministro Álvaro entende que aqui à beira-mar existe um grupo de trabalhadores mal formados e com maus hábitos de disciplina, com feriados a mais e com horas de trabalho a menos e que devem trabalhar mais, muito mais – porque não abolir em breve os fins de semana? –, por menos retribuição. Muito menos.
Não surpreende que as criticas à sua actuação cresçam diariamente sobretudo dentro do quadrante partidário que o recrutou. A economia nacional está de pantanas, os investimentos que estavam assegurados têm-se perdido e cada decisão do Álvaro afunda mais o país e a sua possível recuperação, ainda que lenta.
Por mim, por nós, pelo país, o Álvaro faria bem se emigrasse de novo.
Para além de responder ao apelo do dr. Pedro Passos Coelho, e de outros membros do actual Governo, daria oportunidade a que se remediasse algum do mal que tem feito nestes escassos seis meses de exercício. O Álvaro não está preparado para ser governante.
É que um país de 10 milhões de pessoas, em sérias dificuldades financeiras e económicas, não se compadecesse com experimentalismos teóricos de académicos muito respeitáveis mas que não fazem a menor ideia de como funciona Portugal no dia-a-dia. E quem não faz ideia do presente, não reúne condições para projectar o futuro.

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