O esplendor de Portugal

Maria Fernanda Romba

Na próxima terça-feira, a 5 de Outubro, comemora-se o primeiro centenário da implantação da República. Entidades várias, de autarquias a associações, comemoram a data através de colóquios e outras actividades culturais onde, entre outras memórias do antes e depois, se procuram nos meandros da história respostas para um sem número de perguntas. Cem anos depois, o que nos assemelha e o que nos separa desta época? O que almejavam e o que conseguiram os portugueses? Que dificuldades existiam e que dificuldades existem?
É inevitável encontrarmos algumas semelhanças, mas também é certo que a garra e a esperança, sempre renascida, deste povo estão presentes nos versos e na música que Henrique Lopes de Mendonça e Alfredo Keill compuseram e que desde 1911 constituem o nosso hino, aquele que, compenetrados e hirtos, passámos a entoar, orgulhosamente, não só como uma identificação da pátria a que pertencemos mas como uma identificação de nós próprios, enquanto povo.
…”Heróis do mar, nobre povo, nação valente, imortal! Levantai, hoje, de novo, o esplendor de Portugal!”…
Espartilhados num regime monárquico, de mesas fartas para uns quantos e grandes dificuldades para muitos, onde aumentava a dívida externa e grassava o descontentamento, os portugueses começavam a alimentar o sonho de “levantar, de novo, o esplendor de Portugal”, alicerçado nos ideais republicanos constituídos, basicamente, na afirmação da liberdade e da cidadania e no combate à pobreza e às enormes desigualdades sociais.
Cem anos depois, vicissitudes várias e revoluções pelo meio, a história mostra-nos que a vida dos povos, a vida das nações, como a vida das pessoas, é sempre feita de dificuldades. O que fica é a certeza de que nada foi em vão e que quer como indivíduos, quer como povo, é através do trabalho, do empenhamento, da luta e da esperança que poderemos ultrapassar as várias crises que nos abalam.
Hoje, mergulhados numa crise económica e financeira muito grave, a exigir de todos – governantes, partidos políticos, empresários, trabalhadores e sociedade em geral – medidas excepcionais e inevitáveis, de impacto gravoso para o dia-a-dia da maioria, como vão os portugueses celebrar o primeiro centenário da República? A resposta não pode ser outra senão: com preocupação face aos tempos que se vivem, apreensão face às medidas que se adivinham, mas com a convicção profunda de que as mesmas são inevitáveis e necessárias, se queremos manter a nossa credibilidade enquanto nação e “levantar, de novo, o esplendor de Portugal!”
No aniversário da República, e apesar da situação de crise financeira, agravada agora com a instabilidade política decorrente da ameaça da não aprovação do Orçamento de Estado, é crucial ter presente que, pese embora as enormes dificuldades sentidas nos últimos cem anos, crescemos imenso, enquanto nação e enquanto povo, em inúmeros sectores. Somos livres e iguais, temos melhores condições habitacionais e de educação, temos indiscutivelmente, melhor nível de vida. Mas precisamos, urgentemente, de criar condições para combater, de forma mais eficaz, as assimetrias sociais, reduzir os níveis de endividamento, criar riqueza e desenvolvimento e gerar emprego. Como é que isso se faz?
Economistas, políticos, jornalistas, comentadores, esgrimem opiniões e prescrevem receitas, não sendo responsáveis pelo doente. O Presidente da República convoca os partidos políticos e vem a terreiro apelar ao sentido de Estado e à responsabilidade. De todos. Na esperança de que se entendam. A bem da nação e do povo que a 5 de Outubro irá comemorar 100 anos de luta pelo esplendor de Portugal. E não terá sido, por acaso, que essa esperança e esse esplendor foram personificados na imagem forte e bela duma mulher.

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