Ficámos a conversar, os cinco. Falámos de cinema, dos filmes que tínhamos visto e dos que não tínhamos, mas que gostávamos de ver. Da luz, da fotografia. Tirámos ilações de um e de outro. Encontrámos comparações que nos remetiam para outras histórias, daquelas que nos aconteceram a nós, das outras que aconteceram aos outros. Das que gostávamos que nos tivessem acontecido. Ou não. Repartimos desejos, angústias, sonhos. Construímos projectos, traçámos rumos. Destruímos barreiras. Falámos do mundo. De nós no mundo. Concordámos muitas vezes. Discordámos outras tantas.
A certa altura, recordo-me, levantei-me e fui buscar este caderno onde agora escrevo. Palavras que voltei a encontrar hoje, numa folha pautada, lá mais para o meio do caderno azul de argolas. “O que quero é aqui. Aqui a sentir o cheiro da chuva a entranhar-se na terra gretada pelo sol”. Tentei recordar-me porque teria escrito aquela frase que parecia tirada do livro <b><i>A Planície Heróica</i></b>, do esquecido conterrâneo Manuel Ribeiro. Relembrei-me daquela noite em que conversávamos, os cinco. Das decisões que tomámos. Duas delas passaram por partir. Partir para longe do cheiro a chuva na terra gretada. Por opção, por falta de opção. À procura de outros cheiros (?). E lá se foram mais dois.
Ficámos a conversar, os três. Falámos de jovens que tínhamos conhecido fazia pouco tempo e de como ficámos desalentados com a sua falta de expectativas. Da sua pouca vontade de conhecer, de fazer e ver coisas novas. Da falta de dinâmica e entrosamento com a comunidade em que vivem. Da pouca determinação em acreditar que é possível, se nós quisermos, se nós também fizermos.
Queremos sentir o cheiro da chuva na terra seca, nesta terra que tão pouco tem já da ideia romântica do campo de trigo aloirado pelo sol. Queremos aqui, nesta terra que luta por se afirmar, num mundo onde todos o tentamos também. Queremos mais. Porque temos direito a mais. Porque queremos sentirmo-nos na nossa plenitude, na imensa grandeza desta terra. Queremos. Mas fazemos alguma coisa? Procuramos conhecer? Somos curiosos, interessados, activos na vida da nossa terra? Arriscamos? Investimos? Questionamos? Exigimos?
Muitas vezes não. Infelizmente para o futuro desta terra, muitas vezes não.
Continuámos a conversar, os três. Construímos projectos, traçámos rumos. Destruímos barreiras. Falámos do mundo. De nós no mundo. Concordámos muitas vezes. Discordámos outras tantas. Continuámos a conversar os três, com esperança de voltarmos a ser cinco a querer sentir o cheiro da chuva na terra gretada.
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A Federação do Baixo Alentejo do PS entende que deveria ser Beja a acolher o projeto que a alemã Lufthansa Technik vai implementar em Portugal,