É noite
e a noite põe-lhes
corujas
de olhos grandes
no silêncio
do carro.
As mãos são cavalos selvagens
a pular cercas de botões
e fechos de correr
dando coices de veludo
com os lábios,
dando uma no cravo
outra na ferradura
com as línguas,
dando com as línguas nos dentes,
galgando
ora
planuras
ora
serranias
de pele
quente debaixo
dos cascos
dos dedos,
a galope,
agarrados à espuma dos músculos
sem freio nas bocas.
No dorso de cada um
há corações
a trote
miúdo
no restolho
dos quadris.
As mãos são agora
quatro cavalos cegos
com selas de gelatina
nos lombos
correndo ferozes
no banco de trás.
E os cavalos selvagens
cravam as esporas
das unhas nas costas
e cavalgam loucamente
a par,
e o hálito quente
sopra-lhes
nas crinas
cansadas.
A cavalo
muito dado
não se olha
ao dente.
<i>in Maça de Adão</i>