Faz um ano que decorreu no corrente mês o primeiro e único Festival do Amor. Longínquo Outubro que foi para não voltar a ser. Tal como as cartas de Mariana a Chamilly, revela-se a impossibilidade de coexistir em partilha, o amor. Neste caso, o amor à cidade. As instituições não se gramam. Os agentes culturais não se querem. O público apetece-lhe às vezes, outras nem tanto e às vezes nadinha. O festival poderia ser um motor para um evento que a consolidar projectaria a cidade fora-portas. Lá isso poderia. Que durante os dias em que decorreria mexeria com o precário tecido económico da cidade (alojamentos, restauração, centro histórico, etc…) lá isso mexeria. Que poderia projectar artistas locais e não só para outras paragens, para outras experiências, lá isso poderia. Mas acima de tudo, que tudo servisse para uma séria reflexão sobre o sentido do amor e seus amares nos tempos que correm (tempos em que a predominância da imagem nos exila para uma apatia generalizada). Um reencontro do homem consigo mesmo. Como que abrir do baú da memória, a palavra utopia, a palavra tolerância, a palavra amigo, a palavra fraterna, a palavra ouvir… E tantas outras que vêm coladas a esta infinita palavra que silabicamente ousa terminar em <i>mar</i>, AMAR. Espaço infinito que apetece navegar.
Embora alguma da programação não tenha merecido o meu parecer favorável, pois fazer de cabeça de cartaz num evento desta natureza – não esquecer que o motivo são as <b><i>Lettres Portugaises</></b> – <i>strips</i>, perninhas ao léu e outras rebaldarias, *<i>é projectar o amor onde ele exactamente acaba </i>(palavras que ouvi a um reputado poeta da cidade), há que reconhecer que haveria matéria para crescer solidamente e inclusive embarcar nesta aventura, seria valorizar os seus como nunca. O amor no cante alentejano, os baladeiros, os artistas plásticos, os poetas, os fadistas, etc… Passado um ano, da entidade, a Região de Turismo Planície Dourada, que apoiou energicamente a realização da fugaz efeméride, nem uma explicação à cidade. Assim se fez, assim ficou. Nem água vem nem água vai. Nada. Tanta televisão, tanto reclame, tanta aparição mediática e afinal, o amor ardeu, não se viu e pelos vistos, nem as cinzas deixou.
<b>P.s. </b>Presto a minha homenagem ao meu querido amigo Francisco Sobral. Um percurso de quem sabe calcorrear caminho. Belíssimo fadista. Actor, a destacar entre outros, o musical “Amália”, interpretou apenas 1007 vezes o espectáculo. <b>1007!!! </b>Por parte da comunicação social local nem uma entrevista mereceu. <i>Prantos em casa, milagres à parte</i>.