Normalmente inicio ciclos de lecionação da disciplina de Inglês, ou seja, são-me atribuídas turmas de sétimo ano de escolaridade compostas por alunos que eu não conhecia até então.
Em setembro de 2020 foi-me atribuída uma nova turma. Quis a circunstância criada pela pandemia que desde o primeiro dia de aulas todos usássemos máscara dentro da sala de aula e em todo o espaço escolar, o que significou que nunca lhes vi os rostos na sua plenitude.
Durante muitos meses fomos essencialmente olhos e uma voz às vezes distorcida, distante, equívoca.
É costume dizer-se que os olhos são as janelas da alma, o símbolo maior da perceção das coisas e da clarividência, mas numa relação de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira construída em torno de solicitações orais e de estímulos, só a leitura do rosto na sua totalidade permite registar as respostas e as posturas de uma forma mais ampla e mais consistente.
Se os exercícios escritos, quer sejam de compreensão ou de produção, não sofrem de qualquer limitação por causa do uso da máscara, os exercícios de produção e de interação oral ficam reduzidos ao som. Todos sabemos, até na nossa vida quotidiana, nos mais banais diálogos, que a leitura do rosto do nosso interlocutor é fundamental para uma mais imediata compreensão da mensagem.
Imaginemos então uma sala cheia de alunos em que a língua é apenas uma toada escondida atrás de uma máscara e desprovida dos outros elementos que a distingam de um qualquer outro ruído mecânico. E quando o aparelho fonador tem de se adaptar ao modelo de construção dos fonemas de uma língua estrangeira, a ausência de visualização da posição dos lábios e das expressões faciais dificulta muito a aprendizagem.
Esta foi a perspetiva científica do problema do uso contínuo da máscara. Há uma outra mais geral que tem a ver com as relações humanas e também essa ficou muito prejudicada, no mínimo limitada, nestes últimos dois anos. As ligações que se estabelecem entre pessoas baseiam-se muito na empatia e a empatia constrói-se essencialmente a partir do sorriso. O sorriso é a raiz da amabilidade, da confiança, do contentamento.
É dramático pensar e concluir que durante meses eu não vi o sorriso dos meus alunos nem eles viram o meu. E um sorriso que não se vê não presta, não serve para nada porque do outro lado não há ninguém para o receber.
A máscara foi um muro alto a esconder a beleza dos sorrisos.
Para além do sorriso, enquanto elemento basilar da afetividade, também as restantes expressões faciais fazem parte da comunicação não verbal e são complementares à comunicação verbal porque através delas identificamos e interpretamos emoções e sentido nas mensagens.
Se relativamente aos meus alunos mais antigos eu tinha uma memória clara dos seus rostos, no que diz respeito a estes mais recentes limitei-me durante estes longos meses a fazer um exercício de adivinhação de como seria cada rosto, cada nariz, cada boca, cada expressão facial, cada sorriso.
Finalmente pude desvendar esse mistério e concluir que todos eles têm sorrisos muito mais bonitos do que eu podia imaginar.

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