Marialvices

Luís Dargent

dirigente do CDS

Las Ventas, primeira praça de Espanha, no fim dos anos 50. Toureava, entre outros, Luís Miguel Dominguín, figura maior da cena tauromáquica, casado com uma das mais belas mulheres da sua geração (a actriz Lúcia Bosé) e ainda assim um mulherengo impenitente e personagem controverso com amizades como Francisco Franco, Picasso ou Hemingway.
Encontrava-se no pico da fama e era invejado pela sua valentia, riqueza e sucesso entre o belo sexo, que pelo menos para mim é, e para ele era, o feminino. Mesmo quando as coisas não lhe corriam de feição na praça, ninguém se atrevia a criticá-lo com severidade, desculpando-se sempre o insucesso com uma noite mal dormida (mas bem passada), com o fraco préstimo do opositor ou até com as más condições meteorológicas. Estava por isso o “Maestro” um pouco desabituado de fracassos e ainda mais de vaias e apupos.
Regressemos à praça, onde as coisas não correram bem, formando-se uma bronca, de dimensões inusuais. O artista ferido onde dói mais ainda tentou compor as coisas, mas nem o “hastado” nem o público se deixaram tourear. À medida que o burburinho aumentava, concentrou a sua atenção num indivíduo que se destacava pelo tom da crítica e referências menos simpáticas à sua virilidade, descobrindo que o energúmeno era um dos oculistas mais populares de Madrid, ficando-lhe silenciosamente prometida uma visita na primeira oportunidade.
No dia seguinte, quando o oculista abriu a porta, deparou com a vítima dos seus desvarios e, sobretudo, de um almoço bem regado antes da corrida, cujos eflúvios provocaram a sua ira, hoje já bastante dissipada. Foi-lhe então solicitado um par de óculos dos mais caros. Depois de devidamente adaptadas as lentes e feitas todas as afinações inerentes, foram experimentados pelo toureiro, que olhando fixamente o dono da loja lhe disse não poder levá-los. Inquirido profissionalmente pelo técnico acerca do motivo, respondeu Dominguín: “Quando olho através deles só vejo filhos da mãe” – assim, com todas as quatro letras, olhando-o ainda mais fixamente. Retirando-os ao artista experimentou-os o artífice, que atravessando o adversário com o olhar retorquiu “Tem vossa excelência toda a razão”.
Quando ao almoço contou a cena aos amigos, estes questionaram o sucessor de Manolete acerca do desfecho do episódio. Este respondeu: “Mandei o meu empresário enviar-lhe bilhetes sempre que tourear em Madrid, vou fartá-lo com bom toureio”…
Porque escrevo isto hoje? É um recado para os nossos governantes, passados e futuros: resolvam os problemas e fartem-nos com boas políticas, o resto são marialvices…

Facebook
Twitter
LinkedIn
Em Destaque

Últimas Notícias

Role para cima