Com maior ou menor intensidade, todos sentimos a crise, que chegou, e dizem os “entendidos” (??), está para ficar durante uns bons meses. O dinheiro chega cada vez para menos e o mês não tem menos dias. O panorama à nossa volta não é propriamente animador, com os números do desemprego a subirem e empresas a fecharem. Sentimo-nos algo tontos, sem conseguirmos perceber, com um mínimo de rigor, os mecanismos da alta finança internacional que, dizem, provocaram este estado de coisas. No entanto, algo há que percebemos e muito claramente: se há responsáveis, lá fora e cá dentro, não faz sentido algum que as consequências da crise não sejam sentidas de modo proporcional a essas responsabilidades. E também não faz qualquer sentido que, em tempo de vacas a emagrecerem aceleradamente, sejam os mais pobres, desprotegidos ou vulneráveis, a sentirem os efeitos mais duros da factura.
Nos Estados Unidos o sr. Madoff está já a ser julgado, arriscando prisão perpétua. Poucos meses depois de ter rebentado o escândalo “donabranquiano” em versão maximalista. Em Portugal o sr. Oliveira e Costa continua preventivamente detido, sem sabermos concretamente porquê, uma vez que não há, ainda, acusação. Parece que não há mais ninguém envolvido no caso BPN… A sensação que transparece é que o BPN e suas aventuras terão dado jeito a muita gente, alguns bolsitos terão aumentado de volume e a verdade é que o português até é de brandos costumes… se até o Banco de Portugal terá assobiado mais para o ar do que era suposto fazer…! E o sr. Dias Loureiro continua nominalmente no Conselho de Estado, mesmo depois de ter mentido com a boca toda, como se provou, na sua audição na Assembleia da República… Entretanto o sr. Berardo não perdeu tanto (do nosso) dinheiro como se previa (continua a lista dos 500 mais da Forbes), bem como o sr. Amorim, das cortiças e quejandos (nesta fase do campeonato mais dos quejandos do que das cortiças, muito provavelmente). Mas o sr. Belmiro, o de Azevedo, empobreceu e saiu dessa mesma lista, realce-se!
Entretanto, a Caixa Geral de Depósitos até pode ter tido as melhores razões do mundo para financiar o sr. Manuel Fino: só que o fez à custa dos meus depósitos e dos de muitas outras pessoas. E muitas dessas até receberam, como eu recebi, uma simpática missiva, relativa às despesas das contas à ordem – pelos vistos, coitada da Caixa Geral, dão prejuízo, pelo trabalho a que obrigam. E como a crise é para todos, toca de afinfar com uma taxa de comparticipação nessas mesmas despesas. Mas há “melhor”: como o que interessa é que as contas à ordem tenham saldos médios altos, as que tiverem um saldo médio igual ou superior a 1.500 euros ficam isentas, bem como as contas-ordenado ou as dos jovens. As que tiverem um saldo médio entre 1.000 e 1.500 euros já pagam alguma coisa, entre os 500 e os 1.000 euros a coisa aumenta e abaixo dos 500 euros pagar-se-á qualquer coisa como 13 euros trimestrais só para ter a benesse de uma contazinha à ordem na CGD… Ou seja, quem tiver um ordenado pouco superior ao salário mínimo e tiver que receber o vencimento através de transferência bancária (uma exigência comum e compreensível na maioria das empresas, por exemplo, ou na administração pública) arrisca-se a ter de pagar, só para aceder ao pouco que ganha a módica quantia de 52 euros anuais! Há impostos mais brandos! Dir-me-ão que isto é prática corrente na banca privada. Provavelmente. Mas a banca pública tem de fazer, nesta altura mais do que nunca, a diferença. E quando se vê o que se vê, apetece dizer aos actuais gestores da Caixa Geral de Depósitos: e se fossem à merda, senhores?
Na passada sexta-feira a CGTP encheu novamente as ruas de Lisboa. Não interessa se foram 150.000 ou 200.000 desta vez. Interessa que é muita gente, como aliás tem sido recorrente. O sr. Sousa já engrossa a voz, S. Francisco Louçã deve ter a vesícula aos saltos, a CGTP passa-lhe um pouco ao lado e este ano há muitos votos para pôr na urna. O primeiro-ministro acusa a CGTP de ser manipulada pelo PCP. Todos sabemos que sim, que ao PC interessa o quanto pior melhor, trazer para a rua um clima de insegurança, de receio pelo futuro próximo. Mas ter consciência dessa manipulação não chega! É preciso perceber que há muita gente inevitavelmente descontente, com menor ou maior razão para isso, que há muita gente nas manifs que tem razão para lá estar. Não pode haver empresas com lucros astronómicos e com um péssimo serviço ao cidadão pagante! Não pode haver empresas a fazerem despedimentos quando a sua viabilidade não está em risco! Não pode haver empresas a falirem com os pobres dos seus proprietários a passearem-se de carro novo em folha, como vi há pouco tempo! Há que ter uma noção clara de que é preciso fazer algo para mudar este estado de coisas e fazê-lo! O cidadão comum tem de poder acreditar no Estado, já que na justiça tem alguma dificuldade para já… e a melhor maneira de isso acontecer é cada um de nós sentir que o Estado cumpre o seu papel de nos proteger. Pede-se, portanto, alguma acção mais e melhor dirigida, senhores, que isto não está propriamente de feição para quem cá anda…
Antes de terminar uma nota pela positiva: abriu, há alguns meses, aqui em Beja, no casco velho da cidade, um espaço copo-restaurativo que dá pelo nome (que considero um achado!) de “Galeria do Desassossego”. Tem bons petiscos e uma garrafeira que não é nada de deitar fora. E tem música, da boa, muitas vezes ao vivo e com uma escolha saudavelmente eclética. Tem outra coisa boa: não está vedada aos “kotas” e a gente sente-se bem ali, com a malta mais nova. Obrigado Benvinda e felicidades.
Fundação GALP angaria mais 24 mil refeições no Alentejo
A Fundação GALP angariou mais de 24 mil refeições no Alentejo para pessoas carenciadas, no âmbito da quinta edição da iniciativa “Todos os Passos Contam”.