Última crónica

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Miguel Rego

arqueólogo

Caro director. Com esta pequena croniqueta chega ao fim a minha colaboração com o “Correio Alentejo”. Desde os primeiros passos deste jornal que tenho dado o meu contributo ao desenvolvimento deste projecto editorial. De uma forma singela, uma vez por mês, mas raramente deixando de enviar os dois mil caracteres a troco de um sms e de um mail. O primeiro pedindo o textinho quase sempre em atraso, o outro enviando-o, quase sempre no último minuto. E termino a minha colaboração porque ela deixou de fazer sentido num projecto com o qual já tenho dificuldades em encontrar alguma coisa com que me identifique. Colaboro com o senhor director pelo menos desde 2002. Primeiro n’”O Campo”, depois, entre 2003 e 2005, colaborando com o “Diário do Alentejo” enquanto foi director daquele semanário, acedendo a fazer, de vez em quando, um ou outro trabalho. Com o início do projecto “Correio Alentejo”, estive desde a primeira hora ao seu lado. Gosto de gente acintosa, quando trabalha de forma séria, e gosto de jornais. De os ler, folhear, sentir o cheiro da tinta e perceber como as páginas cheias de palavras que derrubam regimes, servem igualmente para forrar os baldes do lixo ou fazer de capacho para limpar os pés. É esta a verdadeira essência dos jornais. Assim como os amamos na sua construção, rapidamente os esquecemos depois de terminada a obra. Despeço-me desta forma airosa do “Correio Alentejo”. Consciente de que não tendo dado o meu melhor, deixei aqui algumas emoções e olhares que de outra maneira não teriam vindo a lume neste semanário. Cumprimentos, senhor director, e muita felicidade para si e o seu jornal. Não olvidar que a partir do próximo número já não faço parte do grupo de colaboradores. E não me envie mais o jornal para casa, de borla, porque eu gosto de comprar jornais para ler. E já agora. Espero que ao menos neste último número o meu apelido, Rego, apareça sem assento circunflexo. Sem chapéu, como é costume dizer-se. Ao menos desta vez, senhor director, tire-me o chapéu.

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