Dizem que respirar os seus ares
Nos eleva a outros patamares
Onde sonho rima com maresia
E navegando por esse mar de Sophia
Somos transportados à claridade daquele dia
Que se recorda inteiro e limpo
À glória eterna de um momento
Em que livres habitámos a substância do tempo
Sempre que penso em Liberdade vem-me à cabeça uma ave pairando no azul dos céus.
É isso! Ser livre é poder voar.
Esta imagem, umas vezes inocente, outras vezes metafórica, do pássaro preso na gaiola que, quando solto, voa alegre e freneticamente em direção ao azul infinito, traz-me sempre à lembrança a data que por estes dias celebramos.
Um velho mestre com quem convivi a vida inteira relembrava-me amiudadamente que a única coisa que não nos podiam aprisionar era o pensamento.
Celebrar a Liberdade é regressar àquele dia. Ao dia em que o coração parecia soltar-se-nos do peito. Em que entre lágrimas, sorrisos e abraços descemos à cidade e, a uma só voz, clamámos: Fascismo Nunca Mais!
Foi bonita a festa pá!
Foi mesmo muito bonita a festa pá!
E agora pá?
Para onde caminhamos pá?
Anda-se-me a criar aqui um novelo no peito que me diz que aquela Liberdade adquirida em 1974 se está aos poucos a esvair.
Já George Orwell preconizava, em 1949, no aclamado livro chamado 1984, que viveríamos numa sociedade completamente manipulada por “um partido e um governo que perseguem o individualismo e a liberdade de expressão como ‘crime de pensamento’ que é aplicada por uma suposta ‘Polícia do Pensamento’”.
Não sei se já pararam para refletir onde estes tempos do “politicamente correto” nos estão a levar.
Não se pode emitir uma opinião sem que a turba mentecapta exerça o seu poder de contraditório selvagem. Na China já se controla na totalidade por meios técnicos (incluindo o pensamento) a maior população do mundo. Os algoritmos tomaram conta das nossas vidas, influenciando sem que nos apercebamos as nossas decisões do dia-a-dia e os tão discutidos metadados são a última barreira da privacidade. Dizem-nos que em benefício da nossa segurança!
Temos de ser vigilantes e também jardineiros. Vigilantes porque pressinto que no-la querem roubar. E jardineiros porque se trata de uma flor tão delicada e frágil que tem de ser regada e acarinhada todos os dias.
Viva a Liberdade!