António Marques Revez. Toninho, para mim e para os meus pais. Alentejano. 38 anos feitos há dias. Actor e encenador. O melhor actor da nossa cidade. O mais versátil e o mais inteligente. Cantor e encenador e poeta. Artista. Militante do Partido Comunista Português. Dos puros e duros. Sem condescendência e sem revisionismos. Com fé e com teimosia. Membro da companhia de teatro bejense Lendias d´Encantar. Membro daquela cegueira ou daquela obsessão ou daquela tortuosa paixão de continuarmos sempre por cá, tantas vezes sem o conforto de razão alguma para continuarmos por cá. Cerca de vinte anos a fazer teatro em Beja, a esfolar-se de fazer teatro em Beja, a consumir-se de fazer teatro em Beja. A representar, a encenar, a dirigir, a produzir, a carregar cabos, a ligar e a apagar as luzes da alegria e da tristeza que visitam as vilas e as aldeias durante uma hora ou duas, a levar magia a corações boquiabertos. Membro dos que semeiam amor pela representação em crianças e jovens. Membro da dedicação à vida cultural desta terra. Membro da frontalidade e das suas consequências. Membro dos que sentem nas entranhas as injustiças. Fartou-se, está farto. Vai-se embora. Não rasgou o cartão das suas convicções. Vai-se embora ferido e revoltado, sofrido.
Vai-se embora porque este executivo camarário cortou em cerca de metade o subsídio anual que é atribuído à companhia de teatro que ele fundou e consolidou. Vai-se embora porque isso é arbitrário e revoltante, porque isso é um desprezo pelos critérios estéticos e artísticos, porque isso é uma machadada nas legítimas exigências de qualidade que os Lendias d´Encantar impõem a si próprios e devem aos seus públicos. Vai-se embora porque se sente desrespeitado e afrontado e desconsiderado. Vai-se embora porque não tem estômago reverente, porque tem o estômago delicado dos que provam o valor com arte e trabalho. Vai-se embora porque quer dar-se ao luxo de ser estimado e valorizado pela sua honestidade e integridade. Vai-se embora porque tem o direito de se sentir feliz, mesmo passando privações e dificuldades, no destino que escolheu e que o chamou. Vai-se embora para Cuba, de Fidel.
António Marques Revez, actor e encenador de mérito, alentejano, artista talentoso da nossa cidade, decidiu que não actua mais em Beja enquanto este executivo não repor o anterior valor do subsídio municipal atribuído à companhia Lendias d´Encantar. Porque ele sente-se visado na redução drástica desse subsídio, ele que foi durante 12 anos a face visível da companhia, o seu director artístico e principal dirigente.
António Marques Revez, artista brilhante e cidadão vigilante, meu querido irmão, foi convidado a baixar a cabeça e a engolir em seco, foi forçado a ir-se embora. E eu choro esta vergonha para a nossa cidade. Esta injustiça. E indigno-me, eu e o seu público, os seus admiradores, os seus amigos. Somos muitos e estamos contigo, sempre! Porque mereces!
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