Li algures, num jornal ou noutro meio de divulgação pública, uma crónica que achei interessante pela semelhança que procurava estabelecer entre a enfermidade de uma pessoa e o estado do país.
Falava de um obeso que entrava na urgência de um hospital com graves problemas de saúde, o que levaria a pensar que esses problemas teriam a haver, directamente, com a obesidade.
Afinal o problema era outro, porque a pessoa em causa tinha dado uma queda e esse acidente provocara-lhe um corte e a consequente hemorragia grave.
Todos nós podemos cair, por vários motivos e causas, e também sabemos que uns levantam-se muito mais rapidamente do que outros, dependendo da sua saúde e da sua forma física. Claro que um extraordinário obeso cai mais facilmente, mas a queda constitui um perigo maior para a sua débil saúde e dificilmente se consegue levantar.
Portugal, tal como muitos outros países, sofreu uma queda provocada pela crise financeira internacional que assolou o mundo, especialmente o Ocidente. Houve o diagnóstico e a introdução das medidas terapêuticas indicadas para restabelecer a saúde financeira, económica e social dos países e a grande maioria retomou a normalidade e o crescimento económico.
Infelizmente, Portugal pertence a um pequeno grupo que não conseguiu retomar essa normalidade, não recuperou da queda provocada pela crise financeira. E não recuperou porque o seu problema de saúde é antigo, mercê de políticas erradas, de excessos incontidos, de vaidades balofas que conduziram o país a uma obesidade que se traduz numa doença profunda, de difícil tratamento.
Desde o final do século passado que um vasto conjunto de sectores de nossa sociedade adquiriu uma avalanche de direitos incomportáveis para a produção do país. Os políticos preocuparam-se em dar benesses a torto e a direito, os sindicatos, muitas vezes, exageraram nas exigências, os poderes corporativos cada vez com mais força e exigindo maiores benefícios, enfim, tudo consumindo e sem qualquer preocupação em como é que se pagava esse consumo de um país rico. E o mais grave ainda é que esta postura de país rico, com pouco trabalho, conduziu a uma injustiça social das mais graves da Europa. A disparidade entre ricos e pobres é a maior de sempre nos últimos anos.
Tudo isto aconteceu nos últimos tempos, suportado por uma máquina de propaganda poderosa que nos procurava convencer de que Portugal estaria bem e que tudo iria continuar da mesma maneira. Hoje, tornaram-se evidentes que tanta contradição e tanta mentira e propaganda iriam ter um desfecho como aquele que estamos a viver. Quer gostemos ou não, os chamados mercados deixaram de acreditar nos responsáveis do país, deixaram de acreditar neste Governo e, por isso, exigiram outras medidas, outras políticas, e quem vive de empréstimos tem de se sujeitar às regras de quem lhe empresta.
Penso que estamos numa altura muito importante da vida do nosso país.
Para garantir que Portugal cumpre as suas obrigações para com o exterior, mantendo a dignidade de um povo com mais de oito séculos de história e com um património riquíssimo de intervenção na comunidade das nações e, não menos importante, que mantenha a coesão nacional, que é um dos maiores bens de uma nação. Depois, que tenha a capacidade de encontrar o caminho mais correcto para um desenvolvimento futuro que, sem degradar a vida das actuais gerações, possa não hipotecar o futuro das gerações vindouras.
Toda esta situação tem responsáveis, tem rostos, e não nos podemos calar quando assistimos a uma permanente tentativa de branqueamento desses responsáveis. É frequente ver nos órgãos de comunicação social frases como “todos somos responsáveis” – mas todos nós sabemos que nos últimos 15 anos o PS esteve 13 anos a governar sozinho e que, em determinados momentos, com maioria absoluta. Resulta daqui uma verdade indesmentível – Existem pessoas e forças políticas muito mais responsáveis do que outras. Por isso, acho caricata esta tentativa de transferência de responsabilidades, sobretudo para os partidos da oposição. O PSD sempre tem assumido uma posição de grande responsabilidade perante as grandes causas nacionais. Basta recordar a viabilização do Orçamento de Estado para 2010, os chamados PEC1; PEC,2, PEC 3 e o Orçamento de Estado para 2011, criando todas as condições para o Governo governar, Mas, mesmo assim, este não conseguiu fazê-lo em condições que restabelecessem a confiança dos nosso credores.
O Governo do eng. José Sócrates esteve sempre muito mais preocupado com a propaganda, em mistificar os números da execução orçamental, em estabelecer a confusão junto dos portugueses.
Face a toda esta situação é imprescindível a formação de um Governo forte, saído das eleições a realizar em 5 de Junho, com outros actores sob a liderança do PSD e com capacidade de negociar a ajuda financeira em moldes que protejam os portugueses, especialmente os mais desprotegidos, que promova o crescimento económico e que inicie as reformas profundas que Portugal precisa urgentemente, a bem da sua sustentabilidade futura.
PS: O ministro Teixeira dos Santos defendeu que o Governo demissionário não poderia solicitar a ajudar externa. Inclusivamente, criou polémica sobre esta matéria com o Presidente da República (Freitas do Amaral em entrevista ao semanário “Sol” disse que Teixeira dos Santos não tinha razão). Agora o mesmo ministro vem dizer que só temos recursos financeiros para o funcionamento do país até Maio. Afinal, o ministro das Finanças sabia ou não de que Portugal só tinha liquidez até ao mês de Maio? Se sabia e estava a defender que não deveria solicitar a ajuda externa, é inacreditável e revela a conduta irresponsável deste governo.