O que parece. O que é. E o que parece que é, mesmo não sendo aquilo que parece – história com pontuação musical.
Há sempre, nestas coisas como noutras da vida, um activo e um passivo. Um que propõe, que seduz, e um que aceita, que se deixa seduzir. Por vezes há um preterido, que não sabia, ou que, porventura suspeitava e que se arrisca a fazer a figura triste da história segundo os cânones tradicionais.
Ora é no respeito pelos cânones tradicionais que, na história de que falamos, a questão exactamente se põe. Um vereador, militante de uma força política minoritária num executivo municipal, eleito numa lista dessa mesma força política, aceita, seduzido (?), um pelouro, depois de o colectivo dessa mesma força política ter, em devido tempo, decidido recusar essa responsabilidade. Aceita o pelouro, entoando loas ao sedutor (?). <i>Allegro</i>.
O sedutor (?) não comenta, embevecido. <i>Pianíssimo</i>.
Há, entretanto, uma sessão da Assembleia Municipal. O porta-voz da força política maioritária suporta o sedutor (?). Que o que aconteceu, pode. Que o que parece não é. Que, não sendo aquilo que parece, é perfeitamente legal. A <i>sotto-voce</i>.
O vereador é chamado à tábua pela força política de que é militante e pela qual foi eleito. Com a qual deveria ter uma relação de proximidade e de transparência. A postura arrogante não facilita o exorcismo do indesculpável. Acontece a litúrgica defenestração, durante a qual o vereador pensa facilitar as coisas, atirando-se de cabeça pela janela, ao entregar o seu pedido de demissão do partido de que é militante. Evita-se o <i>da capo al coda</i>.
O novel empelourado vereador perora já sobre a área que peloura, em que muito terá que pelourar. <i>Allegro vivace</i>.
Aparente moral da história: mais vale agarrar um vereador com um pelouro do que ver dois vereadores a votar.
Descodificação: Ora o sedutor (?) está meio enrascado, mais os acólitos, porque a meio do percurso está longe de estar a meio do desempenho a que se propôs. <i>Gravíssimo</i>.
Há orçamentos para aprovar e os jeitos outrora de vários lados dados não têm condições para se repetir. <i>Larghissimo</i>.
Daqui a exactamente dois anos há eleições e convém ter cuidado com quem ainda pode fazer mossa. <i>Crescendo e staccato</i>.
Torna-se muita coisa transparente – confirma-se, inclusivamente, que a falta de vergonha e de sentido ético da política não são apanágio só das figuras dos culpados do costume. Bem como a falta de inteligência. E a ideia de que se seduz (?). <i>Grande finale</i>, aguarda-se!
II. Não esquecer o que se passou na Junta de Freguesia de Beringel.
III. Um diário semanário lido por muita gente, bem distribuído por tudo quanto é café, agremiação ou quejando, páginas pelas quais passam os olhos de muito boa gente. Um bom veículo de transmissão de informação regional, para o melhor e para o pior. Independente, assim o diz o cabeçalho. Teoricamente, porque há quem se permita balizar limites para a independência. Chamando-lhe conveniência política, por exemplo. Apenas triste, se fosse propriedade de apenas alguns. Não o é. É pago por todos nós. E, se na outra imprensa os donos da verdade não conseguem ter o acesso que gostariam, nesta mandam eles, decidem eles, diz um tonto de serviço. Estou ao seu lado na indignação, Pires dos Reis.