Dantes, a noite de fim de ano era só deles. Não diziam a ninguém para onde iam, simplesmente iam, de mão dada, sem dinheiro no bolso, divergindo do mundo.
Fugiam do delirante decréscimo da dezena de segundos, das garrafas de espumante, da roupa a estrear. Fugiam dos beijos e desejos de boa sorte e passas e gritinhos e papéis coloridos. Fugiam para onde não havia ninguém, iam em contramão. Não precisavam de mais nada. Apenas levavam cigarros que acendiam na saliva das bocas incendiadas. Onde eles estavam era apenas um lugar dentro deles. Eram egoístas. Esqueciam-se dos amigos que davam saltos na praça, que faziam saltar as rolhas das garrafas e riam abraçados uns aos outros como se fossem felizes. Mas ali no silêncio, ali no deserto de luzes, ali no refúgio daquele beijo demorado, ali eles eram felizes. Onde eles estavam não havia relógios nem camarões cozidos. Os dedos faziam de ponteiros acelerando o tempo dos peitos e a mar e a sal sabiam as línguas. E então num ritmo crescente de uma dezena de segundos, o fogo-de-artifício que eles tinham trazido dentro dos lábios rebentava dentro deles. E lágrimas às cores iluminavam os céus dos seus olhos. E como as horas passavam por eles como cavalos à solta, talvez, quem sabe, até já tivesse passado da meia-noite.
Agora, a noite de fim de ano já não é só deles. É uma agenda que se acaba. Um desespero de coisas prometidas que ficaram novamente por fazer. Números de dez até zero na televisão. Copos tinindo na efervescência dos nervos. Novas promessas pensadas no silêncio da dúvida. Maçam-se à procura da solução para não ficarem sozinhos. Faziam o quê os dois sozinhos?!
Vão, com as mãos dentro dos casacos, com dinheiro no bolso, convergindo com o mundo. Agora têm dinheiro, podem comprar uma boa solução, podem escolher para onde ir, podem comprar roupas novas, podem comprar companhia que lhes mate a solidão, podem ir ao restaurante, mandar vir champanhe e cigarros que se acendem com a normalidade dos isqueiros, podem rir muito a partir do terceiro copo, dar abraços em todos os seres humanos em seu redor, podem olhar para o céu e ver o fogo-de-artifício a rebentar fora deles, fora do céu dos seus olhos.
É apenas fogo-fátuo na noite meteorológica.
E lágrimas sem cor explodem no coração como foguetes de sangue.
Dez minutos depois, logo que expira o contrato da câmara municipal com a empresa de material pirotécnico, o espanto esmorece e a noite corta-os ao meio.

Autarca de Aljustrel reuniu com responsáveis pelo PRR
O presidente da Câmara de Aljustrel, Carlos Teles, reuniu na terça-feira, 4, com os responsáveis pela gestão e coordenação da execução do Plano de Recuperação