Quando o mundo descobriu que estava perante a mais grave crise económica das últimas décadas, que subjacente a essa crise estava o completo desrespeito pelas mais elementares normas éticas e uma obsessão patológica por lucros fáceis, muitas vozes, decretaram o fim do capitalismo, não disfarçando o desejo de um regresso aos valores do socialismo, entendido como os primados dos regimes comunistas!
Reconheço uma enorme vantagem ao comunismo: é mais justo na repartição da riqueza, diminuindo a distância entre ricos e pobres, com excepção dos titulares de cargos políticos, que em todos os regimes comunistas viveram em ostentação, não obstante a miséria do povo. Mas se reconheço esta vantagem ao comunismo, afasto-me dele, porquanto a igualdade consegue-se tornando todos mais pobres, porque se o comunismo é generoso a repartir a riqueza, é inapto para a produzir, conduzindo à miséria. Por outro lado, sendo verdade que o comunismo é um processo que nunca culminou, todas as experiências realizadas, tiveram em comum a supressão da democracia e da generalidade dos direitos individuais!
Permitam-me um paralelismo: defender o fim do capitalismo devido à crise, tem o mesmo sentido que acabar com a democracia, porque algumas das nossas Instituições não honram valores fundamentais! A democracia e o capitalismo são péssimos sistemas, cheios de falhas: mas são sem a menor dúvida os melhores sistemas que conhecemos!
Não é licito inferir-se das minhas palavras a defesa da teoria da cegonha: se desde há muito no meu ensino trato da pertinência da regulação, o actual estádio da democracia portuguesa deprime-me! Quem lutou até ao 25 de Abril contra a ditadura de Salazar e a incapacidade de Marcello para a transição e depois até ao 25 de Novembro por uma verdadeira democracia, não tem no Portugal de hoje grandes razões para sorrir!
Os partidos, esse mal necessário da democracia, confundem-se com o Estado, utilizando-o em seu proveito, gerando uma elite de idiotas que se alimentam de injustificadas benesses e regalias, alicerçados nesse covil de promiscuidades que são as juventudes partidárias, verdadeiras universidade de imoralidades, que ao longo destas décadas têm formando um bando de sanguessugas da riqueza nacional!
A doença, quiçá crónica, que vitima a partidocracia, que repele quem é competente para dar protagonismo a parasitas, é hoje uma das mais plausíveis explicações para o “Estado da Arte” da sociedade portuguesa, atrofiada no meio da mediocridade reinante, submetida aos ditames de poderes ocultos e opacos. E num contexto como este, numa época em que a qualidade da democracia é um tema pertinente, merece aplauso o surgimento no espectro político de um candidato presidencial como Fernando Nobre.
Se aplaudo e sinto uma enorme esperança com esta candidatura, sinto que ainda é prematuro declarar desde já o meu apoio: mesmo sendo agnóstico não me custa reconhecer que a irmã Lúcia tenha sido um ser humana excepcional, mas jamais teria votada nela para Presidente. Dito isto, se reconheço em Fernando Nobre qualidades humanas de excelência, se me encanta o surgimento de um rosto profundamente independente liberto da teia abjecta dos partidos, se aplaudo a coragem de quem por imperativos éticos aceita sair do conforto da imparcialidade para se sujeitar aquilo que os tugas melhor dominam, ou seja, a arte da maledicência, preciso de conhecer melhor o pensamento político do candidato, para tomar uma posição.
Tenho dissertado que a patética situação política dos últimos anos, não reside nos lideres dos partidos, que acreditam lutam por um país melhor, mas na corja anónima que se acantona nos partidos, que vive na impunidade de fugir ao sufrágio com a complacência de uma Justiça lenta e pouco hábil para colarinhos brancos, com laivos de justiceira num mal disfarçado apetite para o exibicionismo, perante a apatia de um povo, profundamente cúmplice com a imoralidade, mergulhado numa amorfa cidadania, raramente capaz de se erguer por causas e valores, com excepções de surtos momentâneos em reacção nervosa e emocional a uma qualquer tragédia.
Pessoas com o perfil de Fernando Nobre, que não devem ter pretensões sebastianistas, carregam consigo a crucial vantagem de fazer envolver num projecto colectivo, de reconciliar Portugal com a sua história – a história real, não a imaginada – de restaurar credibilidade nas instituições, de ser uma voz confiável.
Compreendo que o leitor acha leviano que o facto de alguém ser confiável seja um argumento importante para uma decisão com esta magnitude! Entendo-o, mas… em tempos de profunda miséria moral, todas as migalhas são banquetes!

GBH e Onslaught no Mira Fest em Odemira
Os britânicos GBH e Onslaught, assim como os portugueses Mata Ratos e Corpus Christii, são algumas das bandas confirmadas na edição deste ano do Mira