Os valores ambientais deste Alentejo atlântico são célebres a muitos títulos. Vários domínios científicos confirmam esse reconhecimento, dando continuidade a uma atenção que vem já do séc. XIX e que hoje se encontra consolidada e projectada internacionalmente, em parte pelo notável trabalho desenvolvido por alguns professores nas escolas do concelho de Odemira.
Os valores ambientais, que justificam a existência do Parque Natural, constituem uma riqueza local imensa mas por vezes difícil de integrar numa síntese orientadora. Por exemplo, a estreita faixa demarcada pela área protegida desmembra aquilo que poderia ser a sua própria estrutura principal – a bacia do Mira. É nela que se concentram inúmeros valores de biodiversidade e de paisagem tal como é por ela que historicamente se articulou o Sudoeste e se construiu muito do seu povoamento. Todavia, a preferência foi dada ao litoral, e está até consagrada no próprio emblema do Parque que se desenvolve em torno do motivo das falésias e do mar.
Dir-se-ia uma má escolha. À parte invocações ideológicas de uma “costa vicentina” ou do romântico “belo-horrível” das escarpas, todo este litoral parece menos complexo, humanamente relevante e paisagisticamente variado do que o grande protagonista da vida e da história do Sul que é o rio Mira, com os seus afluentes, as suas serras, o seu estuário, a até com a sua barragem. Contudo, em 1988, foi o litoral que prevaleceu na leitura dos valores ambientais aqui e na determinação das cautelas a tomar.
Entre outras, como prevenir o desordenamento territorial ou obviar à confusão administrativa, destaca-se uma relativamente recente: preparar para as alterações climáticas. Se em 1988 este problema preocupava apenas alguns cientistas e a grande ameaça ambiental ao litoral alentejano era o abuso urbanístico, hoje há que acrescentar-lhe o agravamento da erosão costeira por efeito das alterações climáticas.
No Alentejo atlântico é previsível o aumento do ímpeto e da frequência das tempestades marítimas e uma elevação do nível médio do mar, tanto episódica como duradouramente no longo prazo. Praias e falésias mudarão mais que o habitual, os seus valores ambientais também, e a presença humana nelas estará fortemente posta em causa. A natureza ficará mais a sós consigo mesma, entregue às suas dinâmicas próprias, mesmo violentas e desumanas, destruindo e construindo as suas formas, como sempre, mas com menos gente em cima.
É como se as alterações climáticas, ao reporem a antiga exclusão humana desta orla costeira, trouxessem uma razão póstuma à delimitação original do Parque e novos sentidos sociais à sua acção: mediar o entendimento público da erosão e das suas consequências, valorizar os espaços recuados humanizáveis, projectar o imenso interesse científico desta mudança. Mais que um Parque, as falésias, agrestes e inóspitas, simbolizam bem o difícil e instável equilíbrio de conjugações entre o homem e a natureza e a absoluta necessidade de o reencontrar hoje.

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