<b>1.</b> Beja recebeu, durante mais de uma semana, as comemorações do Dia da Força Aérea. Várias iniciativas, abrangendo o distrito, tiveram na capital do Baixo Alentejo a sua maior expressão. Foi aqui que, a convite do presidente da Câmara, a Força Aérea se mostrou, através de concertos, exposições, demonstrações aéreas, etc…
Destas actividades, destaco a Exposição – a Expofap – que teve lugar no Parque de Feiras e Exposições, onde foi possível contactar com as mais altas tecnologias assim como desfrutar das mais variadas experiências disponibilizadas pela FAP. Centenas de crianças são testemunho do que refiro. Mas, a questão impõe-se, onde estavam os pais destas crianças, onde estava o público adulto, sempre tão ávido de tomar contacto com novas experiências?
Provavelmente o engano é meu.
Possivelmente esta nossa cidade está de tal forma adormecida, tendo perdido hábitos de sair à noite para, até, tomar um café numa esplanada, que nem uma exposição deste teor a fez sair à rua, mesmo sabendo-se que a mesma tinha entradas gratuitas e um horário de abertura que convidava à visita.
Também deve ser por causa desta apatia que o concerto pela Banda de Música da FAP, numa noite de temperatura que convidava a sair, deixou a Praça da República com quase tantos assistentes quantos os músicos que brilhantemente actuavam em palco.
Estranha, esta cidade!
<b>2.</b>O monumento que a FAP ofereceu à cidade representa, nas palavras do respectivo Chefe do Estado-Maior (CEMFA), uma forma de agradecimento pela forma como os bejenses têm acarinhado todos aqueles que servem a FAP e aqui têm passado alguns anos das suas carreiras. A cerimónia de inauguração do referido monumento revestiu-se de singeleza e grande dignidade. A FAP esteve ali representada pelos seus mais altos comandos e a cidade fez-se representar pelo seu presidente da Câmara.
Numa breve alocução, o CEMFA fez as honras do ramo. Esperava-se do autarca um gesto cavalheiro, simples, de reconhecimento, que poderia ser consubstanciado em meia dúzia de palavras, que revelassem o agrado e orgulho da cidade em acolher no seu seio os homens e mulheres que prestam serviço na FAP, não esquecendo as famílias que os acompanham e aqui se têm estabelecido.
Estranhamente, o silêncio foi a forma mais elegante que o presidente da autarquia escolheu para retribuir as palavras do CEMFA. Não se percebe esta atitude. Diria mesmo, muito estranho este comportamento.
<b>3.</b> Beja gabou-se, durante muitos anos, de ser uma cidade arrumada, sem grandes edificações, sem cimento em excesso, com bairros mais ou menos aprazíveis. Apesar de se verificar uma diminuição de habitantes, a construção de habitações parece ter encontrado na nossa terra a sua salvação. Por toda a parte se vê erguerem-se novos edifícios. Se olharmos para aquilo em que se está a transformar a avenida que vai da “Rotunda da Saladeira” (rotunda do Melius, para os mais distraídos) até à zona do Parque de Feiras e Exposições, pergunta-se: mas donde (e para quê) virá tanta gente? Não me pronuncio sobre o edifício que está ali a ser construído e cujos futuros residentes não terão de decorar o nome da avenida, pois se questionados, dirão que vivem na rotunda, dado o edifício está a ser construído mesmo em cima da mesma. Estranho, não é?
Mas, continuando, o crescimento em número de pessoas não tem acompanhado o aumento do volume de betão, pelo que é de prever (será?) o incremento da oferta de casas em 2ª mão. A cidade não se desenvolveu e não criou novos postos de trabalho. Porém, assisto diariamente a um tráfego automóvel a entrar-sair da cidade, logo a partir das 8 da manhã, que me faz crer que muitos dos que residem em Beja vão para outras localidades, onde têm o seu emprego, e muitos dos que aqui trabalham, não residem na cidade. Ao final da tarde, cruzo-me com os mesmos rostos, mas agora circulamos em sentido contrário. Não sei se já alguém se dedicou a analisar estes fluxos rodoviários e tão pouco tento adivinhar se as novas edificações irão albergar os que cá trabalham e aqui não residem. Mas que é estranho, lá isso é!
<b>4.</b> A última sessão da Assembleia Municipal de Beja foi das mais estranhas em que tenho participado. Não falo da discussão em torno de moções ou de opções deste executivo camarário. Os debates em torno de matérias como o IP8, as greves, as “maldades” dos governos, o Hospital, as Escolas, são invariavelmente fastidiosos, pois não acrescentam nada de novo e inserir uma vírgula ou mais um parágrafo não os torna mais cativantes.
Porém, na última AM, quando um eleito do PS (Rui Sousa Santos), que já nas páginas deste jornal fez o mesmo diagnóstico, se referiu ao facto de a nossa cidade se parecer com um deserto, quando comparada com o bulício que oferece, por exemplo, a cidade de Serpa, onde as pessoas têm uma vasta oferta cultural, onde há pessoas nas ruas, esplanadas abertas, enfim, onde há cidade, quando aquele deputado municipal pôs o dedo na ferida, a reacção do presidente da edilidade foi, no mínimo, estranha. De uma forma intempestiva e irritada, ripostando com surdinas de mau gosto, Francisco Santos não soube aceitar a crítica e, teria sido de mestre, contrapor lançando o repto para que se encontrassem soluções. Não, o presidente preferiu ignorar a realidade, remeteu-se depois a um silêncio à boa maneira de birra infantil, demonstrando pouca habilidade nos confrontos políticos. Disse-o na ocasião, e repito-o agora, o presidente não deve tomar como pessoais os ataques políticos, devendo assumir a humildade democrática de aceitar as contrariedades e optar por uma postura mais consentânea com o cargo que desempenha.
Mas, como digo em título, esta é uma cidade estranha. Muito estranha, mesmo.
<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
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