Este país Fascinante

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Miguel Rego

arqueólogo

Esta última quadra tem sido particularmente fértil em acontecimentos delirantes. Em particular na nossa vida política, mas de uma forma impressionante, reflectindo esta coisa nenhuma de um país de invejosos e a armar ao espertalhão. Mas este é o nosso Portugal e é o reflexo da construção mental e cultural que nos enformou desde que o Afonso Henriques andou à espadeirada contra a mãe. Este é o país que todos nós construímos todos os dias. É a Democracia, com as suas regras, queiramos ou não, a impor o caminho que todos nós temos de seguir. Deliberada (mente)… Ou não… E é assim. Escusamos de nos indignar, com o que quer que seja… Com o Salazar a ganhar o concurso dos cromos da bola; com a pancadaria do pessoal do Portas no assalto ao banco do táxi; com os diplomas da Independente e das outras que ninguém sabe sequer que cursos ministram; com os cartazes contra a imigração; com o jogo do gato e do rato da Rohde (é assim que se escreve?), indigna e escandalosamente a brincar com os seus mais de 1200 trabalhadores. Com o Serviço Nacional de Saúde a entrar pelos nossos bolsos… É fascinante, este país. O sol, o azeite, o vinho, os tremoços, as “bejecas”, os cursos de bordados, a pintura de automóveis, o papel de seda… É fascinante. Desculpem lá, mas que hei-de fazer. Eu acho. Poucos se revoltam ou indignam e, por essas e outras razões, vem ao de cima o país mesquinho, manga de alpaca, burocrata, de espírito de funcionário, que ouve sorrateiramente e, inchado, faz-se ouvir com o sovaco mal cheiroso carregado de papéis e decretos-lei. Ou então de careca suada a ditar de cor portarias, artigos, adendas, constitucionalidade, inconstitucionalidade… E é assim que se constrói este país. Assente na antropológica nacional-trauliteira trilogia do Fado, Futebol e Fátima, Graças a Deus. Mais de três décadas depois alguém se chateia com essas coisas? Nada. Ninguém. Nem os brasileiros já querem vir para cá. Só para utilizar este país, deliciosamente instalado à beira-mar, como plataforma de acesso a Espanha. (Mas nós continuamos a precisar de ir para França). Quando pensávamos que, no fundo, a consciência humanista, respeitadora e solidária que caracteriza a sociedade portuguesa, mais dia, menos dia se faria ouvir, errámos. O “sim” ao aborto não foi o que a discussão reflectia; o imbróglio Iraque continua por resolver e não temos, nem de Barroso nem de Sampaio, uma justificação clara da posição portuguesa; o “caso Casa Pia” continua por resolver… Só faltava que o Benfica ganhasse o campeonato… Quero lá saber. Boa Páscoa e muitos ovos.

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