Hesitei sobre o título desta crónica com receio de o mesmo ser mal entendido num momento em que, num hospital português, pacientes de oftalmologia sofrem o drama da cegueira por razões ainda mal apuradas. Mas foi aquele que logo me ocorreu quando li a crónica com que Rodeia Machado, quadro do PCP de Beja, me brindou nas páginas deste jornal, sob o tema “O esquecimento e a cegueira política”.
O título, como sabem, pertence a um livro do militante comunista e premiado com um Nobel literário José Saramago. Julgo que Rodeia Machado não se ofenda com a minha escolha.
Vamos então ao que interessa e começo pelas intenções.
Rodeia Machado, e/ou o PCP, pensa que o que escrevi tem intenções eleitoralistas. Isto é, escrevi o que escrevi porque estamos em pré-campanha eleitoral. É coisa que me merece uma forte gargalhada. É que desde há seis anos que escrevo no meu blogue “Praça da República” e as minhas crónicas neste jornal têm sido críticas dos executivos comunistas da Câmara Municipal de Beja tal como as minhas intervenções na Assembleia Municipal. Responder e reagir agora, isso sim, tem a ver com eleições e com a estratégia eleitoral do PCP.
O deputado municipal Rodeia Machado, por razões que desconheço, atribui-me afirmações que claramente não fiz.
Eu não escrevi que “pela primeira vez, num programa político de candidatura à Câmara Municipal de Beja, o de João Paulo Ramôa, existiu uma clara referência ao Plano Estratégico de Desenvolvimento”. O que escrevi, e repito, foi que “já em 2002, João Paulo Ramôa (PSD) escreveu sobre o assunto – o cluster aeronáutico – e as referidas ideias constavam do programa eleitoral do PSD nas autárquicas de 2005”.
Mas Rodeia Machado, para além de dar provas de não ter lido a minha crónica, quer agora, e mais uma vez, atribuir ao PCP a “bandeira” da construção do aeroporto civil de Beja. Seria bom que Rodeia Machado, e o PCP, não tentassem apagar a História. É que a história da construção do aeroporto civil de Beja está intimamente ligada à história da própria Base Aérea. Numa rápida pesquisa a documentos que me foram disponibilizados, a primeira referência (conhecida) à utilização civil daquela infra-estrutura militar foi feita em 1969. Posso garantir a Rodeia Machado que não foi o PCP nem qualquer dos seus militantes a fazer tal sugestão. Posteriormente, já na década de 90 do século passado, a par das propostas avançadas pela AIP, o PCP falava em terminal de carga, evoluindo posteriormente para a ideia de criação de um aeroporto civil.
Quanto ao Plano Estratégico de Desenvolvimento, escrevi que Beja não o tem. Erro meu. Eu deveria ter escrito: a Câmara Municipal de Beja encomendou a uma empresa, há mais de uma década, a elaboração de um Plano Estratégico para o concelho mas meteu-o numa gaveta e raramente é tido em conta. Também eu já li esse documento, mas como o mesmo é constantemente ignorado pelo executivo comunista, é como se não existisse.
Diz também Rodeia Machado que o candidato socialista à Câmara Municipal de Beja mudou de opinião relativamente ao aeroporto. Julgo que mudar para melhor é salutar. O próprio Rodeia Machado deve estar de acordo comigo, pois ele é um dos exemplos de como as pessoas mudam. Recordar-se-á Rodeia Machado das posições tomadas por si próprio e pelo Partido a que pertence sobre uma matéria como a gestão das águas. Mudaram, certo? Felizmente que foi para melhor. E, já que estamos em maré de mudanças, veja-se o nobelizado comunista que decidiu apoiar a candidatura de um socialista à Câmara de Lisboa. Só as estátuas é que não mudam e por isso estão tantas vezes cheias de cagadelas de pássaros e pombos.
Ainda na sua crónica, Rodeia Machado relata que Beja é uma cidade desenvolvida, louvando os sucessivos executivos comunistas pela obra feita. Ninguém lhes tira o mérito do que fizeram em matéria de saneamento básico, alcatroamento de caminhos municipais e outras coisas que, outros lá estivessem, também teriam sido feitas. O desenvolvimento a que se refere Rodeia Machado não é, pois, aquele de que a cidade e o concelho precisam. Há muito por fazer. E para se avançar é necessária vontade política e abandonar a inércia. Obviamente que o PCP não poderá ser o motor do desenvolvimento.
Pelo menos em 35 anos não o conseguiu ser.
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