A criação e o desenvolvimento de empresas são, reconhecidamente, as dinâmicas mais importantes para que um território se desenvolva. A esta dinâmica não é indiferente o espírito de iniciativa e de empreendedorismo que uma comunidade revela. E é exactamente neste último ponto que reside uma das principais lacunas da região em que vivemos.
Numa ocasião recente tive a oportunidade de trocar algumas impressões com um consultor de gestão com experiência em processos de promoção do empreendedorismo, que recentemente se tem envolvido, através da sua empresa, em projectos de combate à exclusão social em meio urbano. O propósito da nossa conversa foi precisamente escutar e conhecer a sua perspectiva e visão sobre a promoção do microempreendedorismo.
A dada altura da nossa conversa surgiu uma questão que perante ele se havia colocado, que aparentemente, apresentava algumas contradições entre práticas e objectivos. De forma simples explicou que enquanto agente de promoção do empreendedorismo lhe era difícil assumir e compreender certos processos de desenvolvimento territorial que assentam na ideia de que a solução para um determinado território em exclusão possa ser reavivado, exclusivamente, pelo fomento da atitude empreendedora dos indivíduos que nele residem. Efectivamente, explicava, será difícil aconselhar um indivíduo a criar e a instalar um pequeno negócio, uma sapataria, por exemplo, na rua do bairro em que reside, num território em que não existe mercado, em que o poder de compra é baixo e em que a concorrência da grande superfície mais próxima retira qualquer viabilidade a esse negócio. Nesse sentido, enquanto agente de apoio ao empreendedor resta-lhe apoiar o indivíduo a tomar a melhor decisão, à luz das boas práticas de gestão e do funcionamento do mercado. Ou seja, montar a sua sapataria num bairro com poder de compra, que não é o seu, apostando num conceito de diferenciação e num mercado disponível. Questionei-o, então, como se encaixava essa promoção do empreendedorismo individual num projecto de combate à exclusão social e de desenvolvimento comunitário, pois era o caso. Respondeu-me que só através de uma abordagem integrada, que tocasse aspectos de gestão urbana, de regulação da localização empresarial, se poderia fugir a um ciclo de pobreza. Afirmou ainda que, na sua opinião, por não existirem condições nem recursos para esta abordagem integrada, se criam, por demasiadas vezes, “estratégias pobres” para responder a situações de pobreza, o que só contribui para a manutenção da situação ou para o surgimento de novos problemas na vida das pessoas – novos encargos, novas dívidas…
Naturalmente, ponderei sobre a informação e a reflexão que me foi apresentada e confrontei-a com as intervenções a este nível que conheço na nossa e noutras regiões. Efectivamente, muito se investe na criação de novas empresas e no surgimento de novos negócios. Contudo, raramente se assiste a uma concertação de esforços e de recursos que permita o surgimento de negócios viáveis e sustentáveis e com efeitos duradouros e multiplicadores no território. Esta opção que se deve e pode estender a diferentes territórios, urbanos e rurais, passa por uma conjugação de ideias e de actores públicos e privados, a que não podem ser alheios diversos níveis da administração pública. E o nosso território necessita claramente que se conjuguem estes esforços. Por exemplo, muito se tem apostado no surgimento de novas empresas na área do Turismo. Contudo, se acreditamos que existem condições para assentar na vertente turística alguma da dinâmica económica da região importa concertar esforços. Não basta que surjam novas unidades de alojamento ou outras que tais, é fundamental criar outras condições. Fomentar a criação de circuitos de animação, de oferta cultural, disponibilizar e tornar acessíveis pontos de interesse turístico (ex: monumentos e igrejas com horários visitáveis), criar roteiros museológicos, dinamizar e qualificar a restauração, os serviços de acolhimento, são alguns exemplos. Podemos considerar outros como a criação de suportes de sinalização e de informação, investir em campanhas de promoção dirigidas, concertar pacotes entre empresas, agilizar procedimentos e mecanismos de licenciamento ou adequar regras ao contexto (porque será que um centro de acolhimento, com alojamento por camaratas, só pode ser classificado e licenciado como tal numa área protegida?). Para que os esforços individuais de empreendedorismo não se resumam a exercícios isolados e sem futuro, esta é uma abordagem possível, integrada e estratégica, que exige esforços conjuntos de empresários e actores públicos, difícil, certamente, mas, mais do que necessária, urgente.
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