Drama e máscaras

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Luís Dargent

dirigente do CDS

Por estes últimos dias a nossa cidade foi assolada por acontecimentos absolutamente trágicos e funestos, que escapam de todo à nossa compreensão e lhe deixarão profundas feridas que demorarão muito a sarar. Torna-se-nos muito difícil aceitar comportamentos que só podem ser explicados, se é que o podem, se os olharmos pela porta da doença conducente à loucura e irracionalidade total, e apelam aos nossos maiores medos. Tentando escapar aos pormenores e motivações mais sórdidas, procuro uma explicação na falta de valores da nossa sociedade actual, começando no desprezo pela família como célula base de qualquer forma de organização social, e acabando na pressão de um consumismo desenfreado a que todos, infelizmente, nos vemos submetidos. Não consigo entender se o que motivou o crime foi o desejo de proteger as vítimas de antecipadas desgraças ou proteger-se de revelações insuportáveis. Em qualquer dos casos perpassa um egoísmo doentio e a total ausência de respeito pelo outro, mesmo sendo o outro tão próximo e inocente.
Julgo que estes comportamentos patológicos comuns a todas as épocas são, nos dias que correm, potenciados pela pressão constante de sucesso, imagem, poder e riqueza que nos são impingidos a todo o momento. Casos destes devem ser encarados com a inevitabilidade dos desastres naturais e, tal como estes, a única coisa que nos deve preocupar é a criação de todos os mecanismos ao nosso alcance, que permitam preveni-los, detectá-los e, sobretudo, minimizar os seus efeitos.
Se este acontecimento só por si já seria suficiente para nos transportar para momentos menos bons da nossa vida em sociedade, já os que se lhe seguiram, remetem-nos directamente para um contexto pré-civilizacional. Refiro-me à manifestação a “reivindicar” a morte do assassino, com os maiores requintes de malvadez possíveis, e posterior consumação em privado destes desideratos com o beneplácito geral. Se é difícil aceitarmos e lutarmos contra a doença e loucura do indivíduo, muito mais difícil se torna lutar contra uma sociedade e um Estado doentes que, ao invés do esperado, não só não nos protegem como consentem a barbárie…

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