É normal, no regresso de férias, verificar que as pessoas regressam com energias redobradas, para um novo período de trabalho e, sobretudo para enfrentar os problemas do dia-a-dia.
É normal também que haja uma nova apetência para a boa disposição e uma nova esperança no futuro, para que tudo não fique na mesma, para que efectivamente as situações possam melhorar.
Tudo isso é ou seria normal se vivêssemos num país normal, em que as relações, as vivências e, sobretudo, as políticas fossem as adequadas para as condições de vida dos portugueses. Mas não. Voltámos depois das férias (aqueles que se podem dar ao luxo de ter férias) e tudo se encontra na mesma, ou pior um pouco.
São os manuais escolares que aumentaram e se encontram hoje em níveis que a grande maioria das famílias faz um enorme esforço para poder comprar.
Vi há poucos dias uma reportagem sobre esta matéria em que, colocado perante esta realidade, um casal com três filhos em idade escolar fazia contas para poder adquirir os livros, as mochilas e todo o material indispensável para os seus filhos. É claro que esta família certamente não pode ir de férias, porque precisava do dinheiro do subsídio para custear os livros escolares.
Dizem as entidades que produzem os livros que o aumento foi “apenas” de 3% e que tais aumentos não subiram os custos.
Acredito que assim seja, mas o problema não é esse. É que o preço dos livros não pode nem deve cobrir os custos, pois os nossos impostos devem servir para cobrir essas situações em termos próprios, como sempre tenho defendido, ou seja, tem que haver neste país uma política de financiamento dos manuais escolares, no sentido de que o ensino seja efectivamente gratuito e público e em condições iguais para todos.
Os valores dos gastos com a edução não é uma despesa. É antes de mais, e primeiro que tudo, um investimento e um bom investimento.
Enquanto deputado eleito pelo distrito de Beja subscrevi com o meu grupo parlamentar vários projectos sobre estas matérias (que infelizmente não foram aprovados na Assembleia da República), quer em versão de projectos de lei quer em propostas de introdução de verbas em sede de Orçamento de Estado.
Se tais propostas fossem aprovadas, hoje estaríamos perante realidades diferentes no que ao ensino respeita e também no que ao orçamento familiar reporta. Mas voltamos de férias e tudo continua na mesma.
Ainda no ensino, o caso dos professores é paradigmático.
Assisti a uma reportagem sobre o concurso e a consequente colocação de professores e fiquei surpreendido (se é que algo ainda me surpreende) com o que ali foi afirmado. É que 90% dos professores que foram a concurso não ficaram colocados, sendo que a ministra da Educação acha isso normalíssimo, pois segundo ela, a grande percentagem destes não são professores, são pessoas licenciadas que ocasionalmente serviram como docentes em vários estabelecimentos. É preciso ter desfaçatez para se afirmar tal coisa. Por isso disse atrás que este não é um país normal, pois normal seria que não se dissesse tanta asneira e, sobretudo, não se praticasse tanta descriminação como são os casos desta ministra e deste Governo.
Mas voltamos de férias e tudo continua na mesma, ou seja, a instabilidade no ensino é patente e o desemprego neste sector é uma realidade, como de resto na sociedade portuguesa, com um taxa de 8,5%.
Durante as férias, ou mais propriamente neste período destinado às férias vimos, ouvimos, e lemos (parafraseando o poeta) que as questões da saúde em Portugal continuam com dificuldades imensas, derivado e potenciado pelo facto de centros de saúde, serviços de urgências, de maternidades, de remodelações de serviços ou até da própria rede de cuidados primários.
Nascem crianças em ambulâncias dos bombeiros motivados pelas distâncias entre maternidades, o atendimento em Serviços de Atendimento Permanente está mais dificultado e em casos extremos e lamentáveis morrem pessoas por falta de coordenação dos meios de socorro de que o INEM é responsável.
Tudo isto num país que se quer moderno e responsável, um país da União Europeia em que os cidadãos têm direitos que não estão a ser assegurados.
Voltamos de férias e tudo continua na mesma.
Que estranho conceito tem o governo do PS/Sócrates de um país normal, moderno e europeu, em que as desigualdades se acentuam, o ensino está com dificuldades, a saúde está doente e o desemprego grassa por todo o lado.

Castro Verde. João Luís Silva é o candidato do PS em Entradas
O funcionário público João Luís Silva, de 65 anos, é o candidato do PS à Junta de Freguesia de Entradas, sempre liderada por maiorias comunistas,