Vinte e seis de Janeiro, um frio de rachar, futebol na televisão e o jantar à espera…
Nada que impedisse a concentração de largas centenas de cidadãos no largo da estação de Beja, unidos contra o “assalto ao comboio” que as administrações da CP e REFER, tuteladas pelo Governo Sócrates, se preparavam para concretizar.
Nessa mesma noite, uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Beja aprovou por unanimidade uma moção em defesa do serviço público ferroviário.
Há muito que não vivíamos na nossa cidade um sobressalto cívico tão profundo e genuíno, despoletado por este sinal de alarme, para que o comboio continue a apitar.
Em causa não está apenas a ligação directa de Beja a Lisboa pelo Intercidades que a CP pretende reduzir a uma automotora, com transbordo em Casa Branca para o comboio proveniente de Évora. Para que Beja possa assumir a capitalidade tão apregoada (lembram-se?), ou melhor, seja protagonista de todo o distrito e da região Alentejo, não pode ficar no fim da linha. Nem que nos prometam dez Intercidades diários para Lisboa!
Se fosse avante a intenção da CP de desactivar o ramal da Funcheira (esteve prevista para 1 de Fevereiro mas, felizmente, foi travada), chegaríamos ao absurdo de os passageiros de Beja ou Évora terem de ir ao Pinhal Novo apanhar o comboio para o Algarve. É necessária e urgente a electrificação da linha de Casa Branca a Beja e até à Funcheira, o entroncamento que liga todo o interior alentejano ao Algarve.
Além do serviço de passageiros, esta ligação justifica-se também em termos económicos e estratégicos para o desenvolvimento regional. Há argumentos de sobra: Alqueva, o aeroporto de Beja e as duas maiores minas do país – Somincor e Aljustrel –, que têm ramais de ligação aos portos de Sines e Setúbal, via Funcheira, onde entroncam na linha do litoral já electrificada. Hoje, por absurdo, o minério sai da Somincor (uma das maiores exportadoras do país) em vagões puxados a diesel, por falta de poucas dezenas de quilómetros de via electrificada.
Estamos a pagar com língua de palmo o encerramento do ramal de Moura: toneladas e toneladas, não só de azeitonas e uvas mas de azeite e vinho engarrafado, andam em cima de camiões, a entupir e a degradar as nossas estradas, com risco de acidentes e a custos incomportáveis, face à escalada do preço dos combustíveis. Onde está a racionalidade económica e ambiental, perante o fim anunciado da era do petróleo?
Não venham com mais conversa de gestores tecnocratas sobre as linhas do interior que “dão prejuízo”. Por tudo o que acima fica escrito, e também porque a CP e a REFER, empresas públicas, têm de ser geridas numa lógica integrada de solidariedade inter-territorial. Mas o PEC 1, subscrito pelo PS e PSD em Abril de 2010, já prevê privatizar a concessão de linhas suburbanas altamente lucrativas, como as de Sintra ou Cascais. Assim, as do interior poderão ser fechadas ou desqualificadas. E o resto é paisagem!
Não podemos, pois, ficar descansados com a notícia de aparentes recuos nas intenções da CP e REFER. Há motivos de sobra para uma nova e maior manifestação no largo da estação, às 17h30 do dia 14 de Fevereiro, a data em que o comboio chegou a Beja no já longínquo ano de 1864. Se perdermos o comboio do século XXI, arriscamo-nos a ficar para trás do século XIX.

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