Era uma oportunidade a não perder, pensou o Pai Natal, enquanto assistia à cimeira Europa-África através da televisão.
No país do imaginário, do qual ele é primeiro-ministro, muito se tem falado de uma pequena mas valente nação, capaz de congregar no seu seio as diferenças todas que há no mundo e em dois ou três dias, que é o tempo convencionado para cimeiras, feiras e congressos partidários, resolver tudo de uma só penada.
Tem gostado tanto da actuação célere e dinâmica dos responsáveis desse pequeno mas porreiro país, que estava até capaz de lhes vir pôr um aeroporto no sapatinho, se eles, de uma vez por todas, resolvessem onde é que o queriam.
Enquanto os duendes ucranianos carregavam o trenó, a ideia ocorreu-lhe e não mais a largou. Tinha de ser. Faltavam já poucos dias para que esse porreiro país terminasse a gloriosa presidência desse espaço de terra e água que vai desde a Ilha do Corvo até à Lapónia e depois de todas as cimeiras Europa-Qualquer Coisa, era preciso, sem demora, propor a derradeira cimeira, a única que ainda não tinha sido feita nesse fixe país: a cimeira entre a realidade e a ilusão, esse dualismo com que D. Sebastião nos tem vindo a brindar ano após ano, desde há quatrocentos e muitos natais.
Como restavam ainda duas semanas para o fim da inaudita presidência, ficou acordado que a dita cimeira, <i>là crème de là crème, the top of the top</i>, a cereja no topo do bolo dos encontros bilaterais, seria realizada na noite da Consoada, dia de Natal e seguinte. Estabelecidos os necessários contactos diplomáticos com todos os participantes, decidiu-se que o Estádio do Algarve, quer pela sua constante disponibilidade, quer por ficar ao lado de uma SCUT, quer ainda pela sua privilegiada localização como vértice do triângulo Algarve Shopping – Praia dos Tomates – Bombas de gasolina espanholas, seria o palco escolhido e o relvado teria a forma de um presépio. Obviamente que o maior do mundo.
D. Sebastião, que aproveitando uma manhã de nevoeiro apareceu ali para os lados de Almancil, faria de Menino Jesus. O plano tecnológico seria São José, a política faria de Virgem Maria. O Mugabe, o Khadafi e o Hugo Chavéz eram os três reis magos e trariam petróleo, democracia e gás natural. O Cristiano Ronaldo projectado no céu faria de Estrela Polar. Os responsáveis pelos créditos por telefone, vendedores de plasmas, LCDs e Playstation 3 e as operadoras de telemóveis iriam adorar o menino e todos os restantes presentes, principalmente o burro.
A cimeira, intitulada “É Preciso Ardentemente Acreditar no Pai Natal, Pois Não se Vislumbra Um Outro Caminho”, teria como principais moderadores o próprio Pai Natal e um funcionário público.
<b>P.S.: </b>À margem da cimeira foi decidido trocar os inúteis submarinos e investir na compra de trenós e na construção de um teleférico para transporte de esquiadores entre a Mexilhoeira Grande e a Serra de Monchique.