Não sei se é do poder hipnótico das labaredas, se dos dias que empequenecem a olhos vistos, se da quadra que se avizinha, ou mesmo se do frio que lá fora se faz sentir. O que sei é que, com a chegada desta época, foge-me invariavelmente a ponta da lapiseira para outras latitudes temporais.
Desta feita, rememoro práticas, usos e costumes a que fui assistindo ao longo da vida e que, por via da evolução, ou ainda, por uma razão ou por outra, foram caindo em desuso.
Assim a talhe de foice e a propósito do frio que se faz sentir, lembro-me que este era o tempo das frieiras; uma lesão inflamatória originada – como o nome indica – sobretudo pelo frio e pela má circulação, que causava gretaduras nas mãos e pés acarretando aos afectados dores e sofrimento que chegavam a durar todo o Inverno.
Há muitos anos que não dou notícia de pessoas com frieiras, sinal de que as nossas condições de vida evoluíram, tanto no que diz respeito à habitação bem como no trabalho.
Ainda no plano da saúde, recordo-me das primeiras idas ao dentista. Por não sermos educados para a higiene bucal, desde muito cedo começávamos a padecer das enfermidades devidas à falta desse cuidado.
As dores eram por demais e, naturalmente, resultantes da ausência de higiene oral que redundavam em cáries que nos apodreciam os dentes, não sem antes nos provocarem atrozes sofrimentos.
É claro que nesses tempos, os dentistas dos pobres, eram uma espécie de carniceiros, arrancadores de dentes, muito próximos dos dentistas de feira que conheci em Marrocos, só que estes laboravam em ambiente fechado e de bata branca para dar um ar mais evoluído à coisa.
Era muito comum consultarem-se estes profissionais apenas em situação de desespero. Tanto que nas salas de espera o cenário comum era ver a generalidade dos pacientes agarrados à cara em pungente sofrimento, coisa que nos últimos anos só raramente acontece.
Neste meu divagar por hábitos que, felizmente, já só residem na nossa memória, recordo-me de nos jardins públicos, hospitais e outros edifícios estatais, existirem recipientes que davam pelo nome de… escarradores. Coisa nojenta, só de pensar que esta era uma prática socialmente aceite.
Porque o espaço que disponho não me permite mais deambulações, rememoro um exercício dos meus tempos de subúrbio lisboeta.
Por não a termos em casa, era hábito nos anos 60 e 70 ir-se ao café ver televisão. Estes espaços enchiam-se de gente para assistir, a preto e branco, os programas mais em voga.
Entretanto, em cada mesa havia uma espécie de campeonato que consistia em saber quem fazia o Nescafé mais cremoso.
A uma determinada hora – lá por essas 21h30 suponho – era tal a chinfrineira das colheres a baterem nas chávenas que a curiosidade pela alquimia que se desenrolava no fundo destas ultrapassava o interesse do que se passava na televisão.
A discussão e comparação entre espessuras do creme chegaram a almejar ao Chico “6 Dedos” o título de campeão desta prática, que agora me assaltou a memória.
Não sei se foi por ter sintonizado a RTP Memória e estar a passar a série “Conta-me Como Foi”, que me terá levado para esta linha de pensamento, o que sei é que o raio da lapiseira me trouxe a estes episódios que aqui contei ao correr da pena.
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