Gosto de programas de grande público tipo “Família Superstar” e afins. Gosto. Gosto como gosto de aeroportos, do banco de trás do autocarro, daquela mesa escondida ao fundo da esplanada, da espera num serviço público. Gosto daquela coisa de observar as pessoas, de fazer histórias, de imaginar vidas, de ficar a saber que o Manuel traiu a Maria, sem fazer ideia de quem sejam o Manuel e a Maria. Não creio que seja a única. Há mais quem mate a cabeça imaginando muitas vidas.
Perco-me, portanto, facilmente nos enredos, falho muitas paragens de autocarro e dou a minha vez na fila dos serviços públicos. Gosto de poder estar sozinha com as minhas histórias. De poder criá-las num momento que fica só para mim. Resguardado com um sorriso, com uma lágrima, com raiva, com ternura, com dúvidas e incertezas quase cósmicas.
Gosto de inventar teorias, de me perder em pensamentos, não poucas vezes completamente estapafúrdios. Gosto de questões paralelas, de observar e absorver pormenores. De tentar adivinhar o que aquela pessoa comeu ao almoço, se gosta de dançar, se é feliz. Gosto de livros de colorir e de álbuns fotográficos e gosto deste tipo de programas.
Ora isto para dizer que vi a “Família Superstar” um dia destes (confesso, sei que dá ao domingo à noite) e que a minha atenção, que geralmente me desvia para análises paralelas, nessa noite se prendeu numa questão: como será, de repente, perceber que há milhares de pessoas que têm opinião sobre nós? E que nós queremos essa opinião, que todos gostem de nós, que nos admirem, que saibam quem nós somos. Isto deve stressar, só pode. Mas mesmo assim há quem queira. E que faça tudo para o conseguir.
Nisto entra-me televisor adentro madame Maya a dar uma consulta de aconselhamento mediático e pois que perdi o que terão sido os seus fantásticos conselhos, à força de me convencer que estava realmente a presenciar aquele momento. O fenómeno Maya é algo me intriga muito.
Claro que me perdi no seguimento do programa. Não sei quem ganhou e quem perdeu naquela noite em família, mas continuei a pensar sobre o que será, num ai, ficar à mercê da avaliação da opinião pública (só o nome assusta). Sei, cada vez mais, que só pode ser perigoso seguir um rumo por força da opinião dos outros. Como é perigoso gostar de tê-la e esforçarmo-nos para sermos aquilo que os outros querem. Mesmo que não o sejamos.
Preocupei-me com aquelas pessoas anónimas até há bem pouco tempo e que agora dependem da opinião dos outros. Quase que senti compaixão pela maior parte dos políticos que conheço no seu esforço para que a opinião pública goste deles – senhor primeiro-ministro esta noite pensei em si. Pensei em tantas outras pessoas que vivem em função dos outros (não para os outros que é uma coisa bem diferente) e se alimentam deles. Olhar para um espelho mil vezes no esforço de encontrar a melhor opinião dos outros deve stressar, só pode. E corromper, certamente.
Conclusões de uma noite de “Família Superstar”? Continuo a gostar deste tipo de programas, dão-me espaço e tempo para pensar em tudo menos naquilo que estou a ver. Gosto de não me esforçar para que gostem de mim. Desconfio sempre de pessoas que se esforçam. O nível de confiança que tenho em José Sócrates é igual ao que tenho na Maya. E não creio que seja a única.
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