A propósito da estreia recente do filme “Tintin e o Tesouro de Licorne”, venho mais uma vez aborrecer-vos com as minhas preferências culturais e não só. No tom confessional a que habituei os meus leitores (se calhar o simples uso do plural, neste caso, já pode ser considerado pretensiosismo) declaro–me um leitor compulsivo de Banda Desenhada, assim com letra grande que o respeitinho é muito bonito. A 9ª Arte sempre exerceu um fascínio muito grande sobre a minha pessoa e certamente influenciou definitivamente a minha personalidade. “Está tudo explicado!”, dirão alguns dos meus detractores (o nível da “impostorice” continua a subir, dirão os outros), mas é verdade, desde a minha mais tenra idade sempre gostei de, primeiro, limitar-me a ver os bonecos e depois, em idades mais rijas, ler até nas entrelinhas. Iniciei-me com os quadradinhos da Disney, pelos quais perdi o interesse quando começaram a ser editados em Portugal. Passar a “ouvir” os sobrinhos do pato Donald a tratarem-se por tu foi demais para um conservador como eu. “Conservador? Tu és mas é um grande betinho e fascista, olha o imperialista do Disney!”. Calma, a coisa piorou. A seguir descobri o Tintin, esse divulgador de ideias nazis e racistas, segundo um punhado de ignorantes idiotas, e um visionário predecessor da globalização e do multiculturalismo, ecologista descomprometido e generoso amigo do seu amigo, segundo a minha pouco humilde pessoa. Muitos heróis se seguiram, no Mundo de Aventuras, no Falcão e no Condor: Rip Kirby, Mandrake, Fantasma, Tarzan, Major Alvega, Mamselle X, Brick Bradford, Flash Gordon, Buck Jones, Cisco Kid, etc. Já no liceu veio a revista semanal do Tintin com o herói que lhe dava o título, mais o Asterix, o Lucky Luke, o Bernard Prince, o Comanche, os Blake e Mortimer, o Corto Maltese. Os heróis da Marvel e DC Comics: Super Homem, Batman, Homem Aranha, Surfista Prateado, X-Men, Quarteto Fantástico. Peço desculpa pela exaustiva enumeração, mas fiz um esforço sobre-humano para não vos maçar com mais pelo menos uma centena de heróis incontornáveis. Com todos eles me identifiquei pelos seus valores: pela coragem, pelo amor à liberdade, pela luta contra a tirania, pela justiça, pelo humor, pela defesa dos mais fracos e, sobretudo, pela preocupação em deixar um mundo melhor que todos ambicionavam.
Mas ao reflectir sobre qual o herói que mais tempo me acompanhou, e naquele que primeiro aconselhei à minha filha para se iniciar neste mundo (cruzes que isto até parece algo de maçónico), surge-me sempre o Tintin, que ainda hoje releio com o maior prazer.
Para terminar, quero apenas recordar, com triste ironia, que Hergé, mais precisamente Georges Rémy, pai do Tintin, foi várias vezes julgado na praça pública por algumas mentes mais doentes, por propaganda de ideias racistas e nazis, o que a ser verdade mereceria a maior censura certamente. Mas essas mesmas criaturas ignoram olimpicamente, ou até aplaudem, outros que ostensiva e gratuitamente ofendem as crenças e convicções de muitos como um exercício de amplas liberdades. “Com mil milhões de macacos!”, digo eu pelo Capitão Haddock…
Já agora aproveito para dedicar este pobre texto aos meus companheiros, destas leituras, António Almodôvar e José Manuel Ventura Lopes, que com a coragem e tenacidade dos nossos heróis “ultrapassaram”, recentemente, momentos difíceis.

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Pedro Nuno Santos, candidato à liderança do PS nas eleições internas de dezembro, vai estar nesta sexta-feira, 30, pelas 21h00, em Beja, para um encontro