Censura(z)inha caseira…

Miguel Rego

arqueólogo

A nossa região é anormalmente pequena. Não falamos em termos territoriais, como é bom de ver, mas particularmente na débil estrutura socioeconómica e na falta de população que tem, realidades endémicas e profundamente estranguladoras para o seu desenvolvimento, entendido aqui de uma forma alargada e não balizada entre os conceitos de crescimento económico e criação de riqueza, ou outros quantos tão amados das sempre inovadoras e camaleónicas concepções liberais da economia. Naturalmente que estas debilidades geram outras que, sucessivamente, retraem as mais simples e elementares relações entre as pessoas e as instituições. E, em alguns sectores, como é o caso da comunicação social, onde o mais comum dos cidadãos gostaria de ter a certeza de encontrar verticalidade, isenção e, naturalmente, opinião bem formada, raramente o encontra. Transportam-se bandeiras quando, acima de tudo, deveria existir informação e formação. O tratamento que é dado pela comunicação social ao que se passa no seu espaço de intervenção é, cada vez mais, orientado por cores, colorações, tingimentos e interesses particularmente direccionados. Naturalmente que podemos ter interesses de agenda, subentender a notícia que mais vende, publicar ou anunciar daqui para ter publicidade ali. É necessário sobreviver e a comunicação social, naturalmente, precisa saber lidar com a informação para sobreviver. Contudo, há situações que são demasiado evidentes e tortuosas. E até difíceis de perceber. A título de exemplo veja-se a XX Quinzena Cultural que ao longo de 16 dias decorreu em Castro Verde. Com a apresentação de livros, exposições, feiras do livro, espectáculos com artistas de primeira água, dança contemporânea, fados, jazz, música tradicional, debates, eu sei lá… e que notícias destes acontecimentos saíram na comunicação social regional? O Rodrigo Leão numa localidade do distrito teve destaque em vários locais. A sua passagem por Castro Verde? A abertura de uma biblioteca numa localidade do distrito teve destaque em vários meios de comunicação social. A abertura de mais um pólo da Biblioteca de Castro Verde, neste caso em Casével? A Feira do Livro em duas ou três localidades do distrito tiveram destaque. A que se realizou em Castro e nas restantes sedes de freguesia do concelho? Há de facto um silenciar do trabalho de algumas pessoas e instituições que dói. Uma espécie de lápis azul que tanto se combateu, mesmo em alguns meios de comunicação social alimentados por dinheiros públicos, no pós-25 de Abril… E afinal, parece que estes pequenos tiques estão cada vez mais vivos e feitos à medida do freguês.

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