Carta ao director

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Tomé Purificação da Silva*

Sou primeiro secretário eleito de uma Junta de Freguesia. Este já é o meu segundo mandato, após a minha reforma de barbeiro. Percebi agora que estou a acumular a minha reforma de 375,00 euros com os 75,00 da Junta. Neste momento, já prescindi do valor da Junta.
A carta tem como objectivo pedir alguns esclarecimentos, para que eu possa informar os meus eleitores, para que estes saibam o país em que de facto vivem. Portugal tem no presente uma enorme crise, pelo menos é aquilo que todos dizem.
Mas lembro-me que em 2004 o dr. Durão Barroso, hoje emigrante em Bruxelas, quando chegou ao governo disse que o país estava de tanga. Podemos dizer que vivemos de tanga há seis anos? Ou já nem existe tanga?
Tenho ouvido falar frequentemente nos mercados financeiros, como sendo estes os causadores de tanto mal ao nosso país. Foi o país que pediu empréstimos sobre empréstimos ou foram os mercados financeiros que nos obrigaram a pedir emprestado?
Como compreende, a resposta a esta questão é importante!
Outra dúvida que tenho é quando me perguntam se as reformas em Portugal são baixas ou são altas. Sei que a minha reforma e da esmagadora maioria dos meus compadres é mesmo baixa, mas depois ouço falar em reforma dos quadros da função pública, os juízes, os militares, os políticos, os trabalhadores do Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos e outras que têm excelentes reformas.
Também tenho ouvido dizer que há pessoas que têm duas reformas completas e ainda exercem funções públicas onde recebem um elevado vencimento. Claro que eu digo que isto não é verdade, mas, se a questão me for posta por algum eleitor da direita eu digo que é invenção dos comunistas, se for eleitor de esquerda eu digo que é a direita revanchista a inventar estas coisas Não concorda que é uma boa resposta?
O Orçamento do Estado para 2011 aumenta os impostos, retira benefícios fiscais e diminui os salários da função pública e afins. Tudo isto para satisfazer os desejos dos mercados financeiros internacionais. E pelos vistos a coisa não está a resultar.
Isto faz-me lembrar o meu compadre Zé, que foi a um mercado financeiro, aqui próximo da aldeia, pedir dinheiro emprestado para comprar um rebanho de cabras. Passados alguns anos, ficou sem as cabras, sem a casa de habitação, ficando tudo para o tal mercado e até a cabra da mulher foi-se embora para um qualquer mercado de Espanha.
Como V. Ex.ª. já percebeu, estou em sérias dificuldades para com os meus eleitores quanto às explicações a dar aos factos que vão sucedendo no nosso país. Talvez seja um problema de falta de formação, pelo que já pensei no sistema de Novas Oportunidades. Mas quando vejo aqueles que tiveram todas as oportunidades, e muitos deles responsabilidades, não darem nenhuma contribuição positiva, penso que esse não é certamente o caminho a seguir.

<i>* nome fictício</i>

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