Caro Miguel Góis,
Na semana passada chamaram-me a atenção para a crónica que assinaste na Rádio Pax (dia 4 de Janeiro) e eu fui lê-la e relê-la e confesso que fiquei um bocadinho preocupado, contigo e comigo, na dúvida sobre qual dos dois já deixou o plano da realidade e se instalou noutra dimensão qualquer sem correspondência com os factos e acontecimentos. Admito que seja eu.
Começas a tua crónica assim: “BEJA É BOM | BEJA, EXPERIÊNCIAS QUE MARCAM | BEJA É MUITO | BEJA EXPERIENCE | BEJA PARA SEMPRE | I LOVE BEJA | BEJA 5 ESTRELAS | BEJA CAPITAL | BEJA-ME | BEJA-ME MUITO”.
Imediatamente, pensei logo que Beja devia ter ganho o prémio da “Cidade Cultural do Ano” ou que o ganhou efectivamente e eu não dei notícia disso. Mas não, advertiste logo a seguir que tantos e tão enfáticos epítetos se devem ao teu incontinente optimismo. Acho lindamente que sejas optimista, ou, como se diz agora, acho “fantástico”. E até acho mais, acho cool. Mas também não fazia mal nenhum que esse optimismo grandiloquente e contagiante fosse justificado e autorizado por essa coisa tramada que se chama “realidade”. É que senão o optimismo dá as mãos ao escapismo, à demagogia “relações públicas”, à irresponsabilidade política.
Mas, como sou um optimista, acreditei encontrar na tua crónica as razões, os motivos, os dados, os factos, que terão desencadeado ou fundamentado tanto orgulho e vaidade optimistas, porque, como escreveste, e bem, “nós os optimistas, gostamos de olhar para Beja e presenteá-la com vida, com projectos, com ideias e com gente…”. É isso mesmo Miguel! – pensei eu nesta altura – vamos lá aos projectos e às ideias!
Pois, mas… nada, cheguei ao fim da crónica e nada. Quem me mandou ser optimista? Depois é esta sensação de frustração. Bem, nada não, sejamos justos. Subtilmente tu lembras-nos como “presenteaste” Beja durante um ano como vereador da cultura da Câmara Municipal de Beja: “Como a vi no início deste novo ano na Praça da República, ou no Castelo numa bela noite de Verão”. Cá está! As duas festas! A festa dos “betinhos” e “queques” wine night, e a festa do “povão” na passagem de ano.
Pois é Miguel, mas nem o pelouro da cultura é uma “comissão de festas”, nem tu como vereador da cultura és um “festeiro”. E sim, como vereador da cultura durante um ano de mandato fizeste mais: cortaste em quase metade o subsídio anual à principal companhia de teatro da cidade, os Lendias d’Encantar, e atribuíste igual subsídio a quem já recebe 100 mil euros do Ministério da Cultura (espero que tenhas assistido aos espectáculos-delírios do Arte Pública e tenhas concluído por ti próprio a asneira que fizeste); dispensaste o director do Pax Julia mas continua uma absoluta indefinição sobre quem assumirá a direcção e que estratégia se pretende para a programação, a qual permaneceu sem alterações substanciais; assististe ao fecho da cafetaria do Pax Julia e não se conhece nenhuma solução para que seja reaberta e revitalizada; mantiveste a Casa da Cultura no seu acentuado declínio e os diversos ateliês que costumam ser oferecidos em Outubro/Novembro ainda não estão em funcionamento; deste continuidade a uma gestão artística completamente intermitente e casual da Galeria dos Escudeiros e da Casa das Artes Jorge Vieira.
E houve o que não fizeste e considero que devias ter feito: a elaboração de um plano ou criação de um gabinete de apoio à criação artística local, com a especificação dos diversos tipos de apoio e integração dos artistas e técnicos em projectos existentes de âmbito municipal e dos seus trabalhos nos espaços e equipamentos culturais da autarquia; tomar as rédeas do processo de elaboração da Carta Cultural do concelho de Beja e dar-lhe efectividade; propor e conduzir um projecto participado de descentralização cultural e artística envolvendo as freguesias rurais do concelho e a comunidade artística local e regional.
Muito sinceramente, e porque te desejo sorte e sucesso, são estes e outros assuntos prioritários e essenciais para a vida cultural da cidade e do concelho, que devem merecer toda a tua dedicação e empenho, seja com mais optimismo ou seja com mais realismo, mas sempre com humildade, com trabalho de acompanhamento, com a participação e colaboração de pessoas válidas e capazes, com investimento estratégico, e com coragem política.
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O PS de Castro Verde acusa a CDU de “falta de respeito e de responsabilidade pública”, devido ao facto de há seis reuniões consecutivas da