<b>1. </b>Nesta embrulhada do suposto desvio de cerca de 110 mil euros da Junta de Freguesia de Beringel por parte do actual tesoureiro demissionário da Junta e ex-presidente da mesma, eleito pela CDU, já aconteceram e foram ditas coisas extraordinárias.
Em primeiro lugar, o senhor em questão, sem que tenha formalmente confessado o ilícito e sem que fosse obrigado à reposição do valor em falta por ordem de uma qualquer condenação ou auditoria, entendeu devolver o valor em questão e demitir-se por razão de abstractos problemas pessoais e de saúde…
Em segundo lugar, (até) parece que o tal senhor geriu sozinho os dinheiros da Junta desde 1998. Parece que não existia mais ninguém no executivo, (e sendo ele o presidente quando ocorreu o desvio, não podia ser ao mesmo tempo o tesoureiro…), e também parece que não houve durante esses anos todos, nem assembleias de freguesia, nem relatórios de contas, nem oposição política, nem fiscalização cidadã.
Em terceiro lugar, o PS e PSD que, pelos vistos, nem sonhavam que existissem tais irregularidades, já pedem a cabeça de toda a gente e exigem a demissão do executivo da CDU, sem que nada de objectivo tenha ainda sido apurado por parte das autoridades com competência para o efeito, pois o caso só agora vai ser encaminhado judicialmente, e muito menos existem nesta fase arguidos ou condenados.
Finalmente, é inominável que os responsáveis pelo PCP na região tenham vindo a público dissociar-se de todo este imbróglio, declarando que a pessoa em causa não era militante do PCP, apesar de integrar a lista da CDU. Ou seja, o PCP que sempre combateu estoicamente a personalização na e da política, seja nas candidaturas, seja nas vitórias ou nas derrotas eleitorais, seja no trabalho desenvolvido pelas suas equipas, vem agora desresponsabilizar-se como principal partido da coligação e apontar o dedo a um eleito seu, lavando daí as suas mãos só porque o senhor é independente. Como se os militantes do PCP fossem imaculados e como se a honestidade dos milhares de independentes que a CDU integra nas suas listas de candidatura fosse uma coisa duvidosa e sem garantias, só pelo facto de não serem militantes do partido. Por isso, é bom lembrar que o actual presidente da Junta de Beringel também é independente, apesar de ter sido eleito na lista da CDU. Ora, como tal, em coerência com o que pensam, os dirigentes do PCP deviam, desde já, pôr em causa a honorabilidade do senhor, a não ser que, como alguns que vamos vendo por aqui, se inscreva à pressa no Partido. Aí passa automaticamente a ter assento no comité angélico dos virtuosos e a ser forte candidato à beatificação.
<b>2.</b> Se há coisa que não percebo patavina, entre muitas coisas mais, é como funciona a bolsa de valores, os seus movimentos especulativos e a lógica e dinâmica das OPA´s e operações afins. Parece que muita gente se diverte com isso, parece que muita gente ganha vida com isso, parece que muita gente perde ou ganha o emprego com isso.
A bolsa, os corretores, os apostadores, as OPA´s e as OPV´s, faziam parte do mundo paralelo dos negócios, dos filmes americanos como “Wall Street”, e de esquemas manhosos e sinistros como o “caso Caldeira” e outros. Era um universo à parte, um pouco longe de nós, onde o capital, as financeiras, os investidores, e os peritos mais ou menos obscuros, decidiam o ritmo do frenesim capitalista.
Nesse mundo, não entrava o futebol.
O futebol, os clubes, animavam-se de outras coisas igualmente inextrincáveis, mas com vida própria: a injecção de dinheiro por parte de presidentes benfeitores, quase sempre interesseiros, que prometiam mundos e fundos e contratações espectaculares e excitantes, as assembleias gerais incendiárias e maratónicas, a importância dos sócios e dos notáveis dos clubes, a carolice de muitos aficionados que moviam as modalidades amadoras, aquela sensação de trazer o cartão de sócio na carteira e pensarmos que o nosso clube era, em parte, também nosso. Que tínhamos voz, que tínhamos um lugar, que decidíamos de alguma forma.
Depois vieram as SAD´s e a entrada nos clubes na bolsa de valores, e aquele mundo do futebol que emanava do chico-espertismo-nacional, de endividamentos galopantes, de transacções malucas, de relatórios de contas fabricados, de conselhos fiscais demissionários, etc., mas que, em certa medida, também nos envolvia como parte integrante e cúmplice, acabou! Está enterrado, pertence ao passado.
Frases como “o Benfica é dos benfiquistas”, já é uma relíquia de museu, que os velhotes que ainda assistem diariamente aos treinos lembram com tanta saudade como as namoradas giras que tiveram.
O Benfica, tal como os outros, agora é de quem der mais! É disputado na bolsa como quem disputa o leilão de uma garrafa de anis nos bailes da pinha. E também nos bailes da pinha por vezes a garrafa era ganha pelo emigrante cabranote que vinha em Agosto, lustroso de trocos, e pensava que era o maior só porque trazia um CD rodopiante atado no retrovisor de um carro cheio de luzes a piscar. E lá ficava com a garrafa de anis para pôr no bar ao lado do brandy e do conhaque. Para nada. Nós, ao menos, se a ganhássemos, apanharíamos uma bela camada de anis e uma ressaca duríssima de tratar.
Milionário ucraniano do aço, árabe do petróleo, japonês da alta finança ou madeirense americanado, uma coisa é certa: nunca mais a garrafa de anis vai ser ganha e bebida pelo povo da terra, no meio do salão de festas, no feliz convencimento que o baile é nosso.