Escrevo esta crónica em pleno período carnavalesco.
Um período de oficial tolerância de ponto e pontes de lazer, onde os foliões bejenses poucas alternativas têm que não seja sair da cidade e procurar divertimento fora de portas. Beja já teve a sua Batalha das Flores, Beja já teve afamados bailes de máscaras, Beja já teve Carnaval.
O Carnaval é, também, mais um espelho daquilo em que se transformou a nossa cidade.
Uma cidade que se diz capital de distrito, que se quer um pólo centralizador de desenvolvimento, que se quer uma verdadeira cidade.
Porém, todos os caminhos estão a seguir percurso inverso.
O marasmo a que se chegou reflecte-se em vários sectores, como por exemplo no comércio tradicional, por culpa dos comerciantes, das grandes superfícies, das lojas de ocasião <i>made in china</i>, mas também pela cegueira de quem governa os destinos do concelho, incapaz de ser um motor de desenvolvimento, incapaz de criar incentivos à fixação das pessoas nesta região, inaptos para evitar a lenta mas efectiva evasão de quem aqui já não vê futuro.
Também na cultura e no desporto, onde um clube com pergaminhos equaciona já a sua extinção, talvez por culpa também dos seus dirigentes, mas seguramente porque os cidadãos viraram as costas à sua cidade e aos seus símbolos. As actividades culturais, cingidas a manifestos panfletários, não atraem os já poucos resistentes, vendo-se a biblioteca municipal a perder ímpeto – não se admirem quando lhe for passada a certidão de agonia. O Pax Júlia está longe de ser a propagandeada grande sala de espectáculos do Sul, as galerias de exposições definham com horários inadequados, devidos a uma desajustada gestão de recursos humanos nos referidos espaços.
O aeroporto de Beja é, também ele, mais um reflexo do que se passa por aqui. Se recordarmos tudo o que já se anunciou para aquela infra-estrutura aeroportuária, percebemos que o aeroporto está a navegar em águas turvas, que vão desde o pouco apoiado turismo passando pela inconcebível plataforma logística oriunda da China, que serviria exclusivamente os interesses chineses na Europa, águas turvas que passam também pela fixação de uma oficina de manutenção com a sigla da TAP. Tudo projectos anunciados como tal e que têm na presidência da Câmara o seu maior padrinho, apesar de se perceber que tudo não passa de anúncios avulsos, sem nexo e sem pertencerem a uma estratégia inteligente para o desenvolvimento da região.
À medida que o tempo vai passando, vamos percebendo porque desapareceram os corsos carnavalescos e tantas outras coisas que faziam de Beja uma cidade desejada para viver, para aqui passar uns confortáveis dias de lazer, para aqui vir assistir a este ou aquele evento. Com um Parque de Feiras e Exposições com condições excepcionais, aquela infra-estrutura sobrevive mercê da vontade e empenho daqueles que não se renderam aos <i>encantos fatais </i>da autarquia, e é por isso que a Ovibeja é, hoje, o único acontecimento que projecta a cidade e a região, que traz aqui milhares e milhares de pessoas que, depois, só aqui regressarão para a Feira do ano seguinte.
Beja e a região têm potencialidades. Mas continuarão a servir de pouco enquanto não se perceber que este executivo camarário não está interessado em trazer empresas – e consequentemente mais pessoas – que aqui se fixem, que aqui criem a sua riqueza e aqui deixem parte dos seus rendimentos. Não basta ao executivo realizar concertos de fim de ano anunciados exclusivamente dentro das muralhas da urbe, não chega ao executivo bejense a constante produção de propaganda de projectos, quando se sabe que os mesmos não são mais do que <i>sound bytes </i>para encher noticiários e manter entretidos os eleitores.
O Carnaval de Beja não existe, morreu.
Ainda iremos a tempo de evitar que a cidade lhe siga o caminho?
<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
<a href=´http://www.pracadarepublicaembeja.net´ target=´_blank´ class=´texto´>http://www.pracadarepublicaembeja.net</a> )</i></b></p>