Autoridade

Quinta-feira, 20 Julho, 2017

Vítor Encarnação

Mais do que uma questão do foro profissional, de prerrogativas definidas por lei, de regulamentos internos, de eleições, de nomeações ou fruto de vantagens obtidas das mais variadas formas, feitios e cores, o exercício da autoridade é fundamentalmente uma questão cultural. Quem não tenha aprendido princípios e valores na família, na escola, nas relações, nos livros, na história, na política, na filosofia, na sociologia, dificilmente terá condições para ser um líder capaz.
Mas há quem não tenha aprendido nada destas coisas, inclusive menospreze quem o tenha feito, e exerça a autoridade de uma forma austera, fazendo uso da cenoura e do bordão, de maneira que a todos os dependentes e subordinados percebam quem é que manda ali. E esta prática em que o respeitinho é muito bonito cria um exacerbado culto do chefe e a bajulação pública é o caminho para a salvação da vidinha. A pirâmide está bem definida e só se sobe na hierarquia mediante critérios definidos pelo chefe. Esta é a forma mais simples e mais clara do exercício da autoridade porque toda a gente a percebe. Este chefe é sempre forte com toda a gente.
Há, também é verdade, o oposto desta postura. Também porque, mesmo com o tempo e a experiência, não aprendeu nada que lhe tenha dado estrutura mental, solidez e competência para traçar rumos e alcançar resultados, quer ao mesmo tempo agradar a todos, a malta dar-se toda bem é que é uma coisa bonita e valiosa. Não se chateia, não chateia ninguém e acredita piamente que não há nada que o tempo não resolva. É claro que nesta anarquia de falta de liderança cada um faz o que lhe apetece para resolver a sua vidinha, a pirâmide inverte-se e as responsabilidades andam à deriva. Antes isto do que um bordão, pensa a maioria. Este chefe é sempre fraco com toda a gente.
E também há uma mistura destes dois. São os mais terríveis, os mais tácticos, os mais estratégicos. Desprovidos de valores e competências, que nem uma eternidade resolveria, sabem muito bem o que querem para resolver as suas vidinhas e movem-se sem espinha dorsal que lhes atrapalhe os movimentos. Têm várias máscaras e, feitas as cínicas contas dos dividendos a tirar, podem ser cândidos ou velhacos, simpáticos ou rudes, podem sorrir ou ofender, abraçar ou dar facadas nas costas. A pirâmide é uma coisa elástica. Este chefe é forte com os fracos e fraco com os fortes.
Contrariando estas três formas, conclui-se que o domínio equilibrado, consciente e criterioso do exercício da autoridade deve ser o resultado final de um processo de aptidões pessoais que foram sendo melhoradas e consolidadas ao longo da vida. Um bom líder atingiu, com tempo e experiência, um alto nível de competências aliadas a fortes capacidades de decisão, a uma boa comunicação, ao diálogo e a práticas de assertividade, sem nunca perder a noção de que as pessoas são, independentemente dos objectivos e dos números a alcançar, aquilo que realmente conta.

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