Assembleia municipal e festival do amor

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

António Revez

<b>1. </b>No dia 24 de Setembro houve reunião da Assembleia Municipal de Beja. Eu fui, e recomendo este fórum da democracia representativa local. O público pode assistir e até fazer perguntas que serão quase todas irrespondidas pelo presidente do executivo com titubeante pose institucional. Esta sessão da Assembleia Municipal estava assombrada pela espectacular fuga do socialista José Monge para o colo dos comunistas, que o elevaram a vereador com o pelouro da educação por bons e estimáveis serviços de carneirismo político no contexto da pseudo-oposição na Câmara. Monge é manso e de confiança e acha o clínico Francisco Santos o melhor presidente da Câmara de todos os tempos, e não se cansa de enaltecer as suas visíveis qualidades políticas, onde com soberbo descaramento consegue incluir a capacidade de diálogo e a aceitação das críticas. Bem, convenhamos que Francisco Santos mostrou alguma capacidade de diálogo na angariação do senhor Monge, e terá sido por inocente lapso de esquecimento que não terá dialogado com a força política que elegeu o respectivo vereador. Este, por sua vez, esteve-se nas tintas para o seu partido e para os eleitores que representa, e aceitou um cargo que só lhe vai trazer chatices e nenhuma vantagem pessoal ou familiar.
Sobre tudo isto só se ouviu na Assembleia Municipal o deputado social-democrata João Espinho a alfinetar os protagonistas da negociata, mais o deputado comunista Rodeia Machado a confundir a legitimidade institucional e legal da decisão do presidente da câmara com a ilegitimidade política de uma decisão cuja transparência e decência de procedimentos requisitava o entendimento formal e público das duas forças políticas envolvidas. O PS, ainda atordoado com a coisa, remeteu-se ao silêncio.
Quem não se calou foi o social-democrata Pires dos Reis, acusando a direcção do “Diário do Alentejo” de lhe ter censurado um artigo por razões políticas. Em socorro da direcção comunista do jornal veio o impagável Ludgero Escoval, ex-demolidor da gráfica da associação de municípios, e que justificou a censura feita pelo “Diário do Alentejo” com o silenciamento a que os media nacionais votam o PCP, e sugeriu mais: quem quiser expressar divergências com o universo comunista, que desembolse uns trocos e publique páginas no “Correio Alentejo” em forma de publicidade.
O momento mais interessante da sessão foi o balanço crítico do mandato comunista na Câmara de Beja, apresentado pelo socialista Paulo Arsénio. Este referiu os grandes projectos prometidos pela candidatura da CDU, e ficámos a saber que quase nada foi feito ou está em curso.
Ah, registe-se ainda que das nove perguntas endereçadas por João Espinho ao presidente da câmara a propósito desse projecto sinistro que é o Beja Digital, ouvimos apenas que a Câmara de Beja aproveitou a totalidade da verba que lhe era destinada, e que não é pequena. Dão-se alvíssaras a quem descobrir onde é que foi aplicado tanto dinheiro!

<b>2.</b> Nos dias 28, 29 e 30 de Setembro teve lugar em Beja a 2ª edição do Festival do Amor, um evento organizado pela Região de Turismo Planície Dourada e produzido pelas Cocas Produções.
O Festival do Amor é, sem sombra de dúvida, a mais original e diversificada iniciativa cultural e artística que decorre na nossa cidade. Depois de um ano em que ficou em águas de bacalhau por motivos que a falta de dinheiro conhece e recusa da câmara municipal em apoiar financeiramente o festival, a 2ª edição regressou em força este ano e com um programa mais completo e ousado, muito embora os apoios tenham permanecido parcos. E é esse um dos feitos tremendos do festival do amor: conseguir com um orçamento muito modesto levar a efeito um conjunto de realizações ambiciosas e inovadoras que projectam o nome de Beja nos principais meios de comunicação social e mobilizam um vasto e heterogéneo público vindo de todo o país.
O Festival do Amor nasceu de uma vontade partilhada por algumas pessoas com preocupações culturais, de celebrarem o amor como eixo fundamental da existência humana, mote constante da produção artística e cultural, e misterioso factor de felicidade e de vida.
Esta 2ª edição trouxe mais novidades e mais público, apesar da chuva que teimou em abençoar o festival, e por isso estão de parabéns as duas pessoas que com abnegação e muito trabalho têm conseguido erguer um evento a todos os títulos meritório: Jorge Caetano (Cocas) e Vítor Fernandez Silva.
E não ficaria bem comigo se não registasse o silêncio obsceno que uma iniciativa tão importante para Beja e para a região, mereceu de duas empresas que se situam na esfera de influência do PCP e que não se fartam de berrar à histeria que servem os interesses da região e promovem o que de positivo se faz por cá: A rádio voz da planície e o campo dos media e a sua TVBeja. Irmãs siameses da subserviência, correias de transmissão sem coluna vertebral, uma vergonha! Para elas, e porque o espírito do Festival do Amor é contagiante, a nossa compaixão.

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