As vuvuzelas da política

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Carlos Monteverde

Quando as estações de televisão anunciaram, durante o campeonato do mundo da bola, que era possível silenciar as vuvuzelas e conseguir seguir os jogos descansados, dei por mim a pensar como seria bom que também fosse possível calar as vuvuzelas televisivas da política. Imaginem o descanso que passávamos a ter se conseguíssemos tirar o som ao Pacheco Pereira, ao Paulo Portas, ao sr. Mário Nogueira, etc., etc.
Infelizmente, o milagre é só para a bola e por isso lá tivemos de gramar toda aquela palhaçada da Comissão de Inquérito ao chamado caso TVI, em que a medida higiénica do afastamento da d. Manuela Guedes foi tomada como saneamento pelos novos arautos da democracia deste país.
Toda a gente se lembra dos telejornais desta moça dos lábios inchados. Eram a imagem do bom senso jornalístico, da serenidade e da isenção. E com um final sempre previsível. A culpa era do eng. Sócrates. E a partir daí foi ver o arraial de vuvuzelas televisivas, a chamar sem decoro mentiroso ao primeiro-ministro de um país, sem que nada se tenha provado nos tribunais, mas lapidarmente julgado pelos fariseus políticos, desde figuras quixotescas e menores como Pacheco Pereira até ao prof. Marcelo, que desde o seu mergulho no Tejo terá inundado muitos dos seus neurónios, resvalando amiúde para o clube das vuvuzelas.
Claro que o intelectual da Marmeleira descobriu há muitos anos que é muito mais lucrativo debitar umas patetices escritas e faladas do que ser marxista-leninista. Mas o ódio pessoal e patológico que destila em relação ao primeiro-ministro só lhe pode augurar um futuro igual ao da d. Manuela. Os impostos dos portugueses não podem servir para sustentar alforrecas deste calibre, travestidas de intelectuais e justiceiros da rua. Nem podem servir para ver os tribunais serem substituídos por escribas como o sr. do Bloco de Esquerda chamado Semedo, que não conseguindo chegar às conclusões que queria por falta de provas, não deixou de condenar mesmo assim o primeiro-ministro. Mas aqui sem surpresas para ninguém, a não ser para os eleitores que promoveram episodicamente esta gente.
Eu estou francamente farto de ver um país em crise, onde o dia-a-dia das notícias vai das frustrações da selecção luso-brasileira da bola, principescamente paga, às recusas do pessoal em pagar as auto-estradas ou pagar seja o que for, porque, como sabemos, os sacrifícios em tempos de crise são mais para povos como o alemão do que propriamente para castiços como os gregos ou os portugueses, onde as conquistas são irreversíveis e quem tem de fazer sacrifícios são sempre os outros.
E aqui residiu o único grande erro do eng. Sócrates, ao querer isentar a classe política, já que o exemplo é muito mais importante do que alguns resultados obtidos.
A falta que tem feito o eng. Cravinho com o seu projecto anticorrupção, até para meter na ordem os nossos gestores públicos, que continuam a comer à tripa forra e a alargar impunemente o leque salarial português, já que os sacrifícios também não são para eles. E aqui, a responsabilidade só pode ser assacada aos sucessivos governos, que parecem querer manter a tradição dos tachos pós-ministeriais. António Costa ou António José Seguro poderão vir a ser no futuro a garantia de maior transparência e fidelidade ao programa do Partido Socialista e a impedir o aparecimento de artistas do calibre do sr. Rui Pedro Soares.
Uma palavra para o trabalho dos nossos autarcas alentejanos. Pedro do Carmo, cujo trabalho excelente em Ourique lhe permitiu manter a Câmara, continua a arrumar a casa através de um saneamento financeiro notável, que muitos consideravam impossível e que ainda lhe permite promover o concelho com iniciativas várias. Foi também o primeiro a dar o exemplo no apertar do cinto, perante a crise. A registar. Em Aljustrel e Beja, onde as populações também quiseram a mudança por maioria, de realçar que em qualquer dos casos os novos presidentes de Câmara não quiseram recorrer às habituais acusações à gestão anterior, tão habituais entre nós, optando pelo trabalho de primeiro arrumar a casa, sem grandes vuvuzelas para a imprensa, para na altura devida corresponder às expectativas dos eleitores. Espero que esse trabalho, que vai certamente aparecer e tem de aparecer, possa ser premiado nas próximas eleições, como aconteceu com Pedro do Carmo.
De resto, e no futebol, a Selecção foi o que foi. Já o Figo dizia que não podia ir perder prestígio para a Selecção e a escola mantém-se. Ditosa pátria esta, onde os meninos é que decidem se jogam pela Selecção do seu país. No passado era uma honra qualquer atleta poder vestir a camisola das quinas. Agora, os meninos decidem quando estão cansados e já não estão afim. O luso português Deco, esse foi definitivamente para o Brasil. O Carlos Queirós vai continuar a ganhar muito dinheiro e a ser professor. De facto, o nome de “Navegadores” foi um insulto aos nossos valorosos antepassados. Eu tinha-lhes chamado “Náufragos”, que era muito mais adequado.

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