Sou amigo do António Inverno. Feita a declaração de interesses, deixem-me falar-vos dele.
O António é alentejano, de Monsaraz e vive em Beja. É membro efectivo da Academia das Belas Artes.
Humanista, contador de histórias, professor. Artista plástico. Mestre.
Como ele gosta de dizer, “Mestre é aquele que aprende”. E ele ensina, muito. Sempre!
Diz o que pensa, sem se preocupar em pensar o que dizer, porque as palavras na sua boca ganham outra dimensão, como de um quadro acabado de pintar. Com cor, com luz, com infinito. Livre. Sempre!
Não sendo crente, é um homem de fé e bons princípios. Não por aquilo que “prega”, mas pelo que faz. Solidário, disponível, presente. Homem de paz. Sempre!
Vive em Beja, mas a “cidade” não o aproveita. Dá aulas no IPBeja e a “escola” não o valoriza.
É uma figura, maior, da nossa cultura.
E é precisamente por ser quem é que não pode, ou se preferirem, não deve, ser convidado para fazer trabalhos de “bricolage”. Muito menos pro bono. O António deve ter a possibilidade de trabalhar naquilo que gosta e onde é um dos melhores. Na pintura, na serigrafia, nas exposições. E assim, deixar entre nós um legado cultural, que seja uma “marca” e uma referência de enriquecimento da nossa idiossincrasia.
O António, comendador da Ordem do Infante, quando lhe perguntam se é verdade que é comendador, responde com aquele jeito peculiar, só ao alcance dos sábios, “veja lá que até isso me chamam”…
<b>II. </b>A cultura deve ser um sector com bens acessíveis à generalidade dos cidadãos e não uma coutada, só para alguns. Deve ser democrática, mas digna.
As estratégias culturais devem ser pensadas de forma integrada, sustentada e multidisciplinar.
O teatro, a dança, a ópera, o cinema, as exposições, a animação de rua, os eventos temáticos, os concertos, a escrita, a pintura, a escultura, a fotografia, o cante, o património, são apenas alguns exemplos de bens culturais que devem ser pensados, não de forma casuística, ao sabor do momento ou de acordo com o gosto, pessoal, do decisor político, mas sim em harmonia com um plano, uma estratégia, um rumo. A programação deve valorizar cada iniciativa, num quadro de promoção global. O sucesso só se pode avaliar pelo acesso do maior número de cidadãos aos bens e valores da cultura.
<b>III. </b>O sector cultural, ao contrário do que muitos pensam, é hoje fundamental para a recuperação da economia local. Obviamente é importante a complementaridade com o sector educativo, como por exemplo o Conservatório, e com o turismo.
O Estado, central, regional e local, deve assumir as suas responsabilidades, olhando para a cultura pela via do investimento e não da despesa. E neste particular, assumir o papel de promotor e não de produtor.