<b>1. </b>O assunto voltou a encher páginas de jornais e prime times de noticiários televisivos no fim de semana em que escrevo esta crónica. A reviravolta, pelo menos aparente, no caso Maddie McCann, com o re-interrogatório dos pais e a sua constituição como arguidos, em função dos resultados disponíveis dos testes de ADN das manchas de sangue encontradas pelos cães-polícias ingleses no apartamento e no carro utilizado pelos McCann, abriu a porta a múltiplas especulações e alimentou inúmeros directos das estações de TV a partir da rua onde se situam as instalações da PJ em Portimão. Segundo os meios de comunicação, a Polícia Judiciária inclinar-se-à, cada vez mais, para a tese de que Maddie terá tido uma morte acidental e de que os pais terão cometido o crime de ocultação de cadáver (falta saber onde é que estará escondido o corpo da pequenita). A partir do momento em que terão dado conta da morte da filha, os McCann terão entrado numa espiral de louca fuga para a frente, tentando incutir, através da mediatização global do caso, a ideia de rapto para alimentação de uma rede internacional de pedofilia. O apoio declarado do primeiro-ministro inglês Gordon Brown e o facto de terem contactado pessoalmente o papa Bento XVI dão uma ideia dos efeitos conseguidos com essa mediatização. Isto, claro, para além dos fundos de solidariedade conseguidos, que têm permitido que Gerry e Kate McCann se mantenham em Portugal desde Maio, suspendendo o seu trabalho no NHS britânico (acabo de saber, pela TV, que voltaram a 9 de Setembro, ao Reino Unido).
Daquilo que todos sabemos, o caso tem contornos muito pouco claros. Houve morte? Ou sequestro e rapto? Houve envolvimento da família directa e/ou de amigos ou não? O facto de os pais de Maddie terem sido constituídos arguidos (uma figura legal portuguesa que não existe na lei britânica) constitui uma forma de pressão sobre os próprios ou, pelo contrário, constitui uma forma de protecção? Insuportavelmente, a populaça que nada mais tem que fazer do que se ir plantar à porta da PJ, sempre disposta a condenar sem apelo nem agravo quem está numa posição fragilizada, desatou a apupar histericamente os vilões de hoje, que ontem eram heróis. Nestas alturas não há disponibilidade para por alguns agentes do corpo de intervenção a meter esta gente na ordem? Uma coisa eu sei, todos sabemos: o drama daqueles pais deve ser algo muito próximo do insuportável, sejam eles totalmente culpados ou totalmente inocentes. Anjos ou demónios, venha o diabo e escolha…
<b>2. </b>Morreu Eduardo Prado Coelho. Alguém que passou a fazer falta no meu dia-a-dia. De há anos leitor atento das suas crónicas diárias no “Público”, a sensação de vazio instalou-se agora, ao folhear o “P2”. Já tinha havido um arremedo dessa sensação de perda, com a suspensão da publicação das crónicas durante o período a que foi submetido a um transplante hepático, mas sabíamos que era uma ausência temporária, que haveria um retorno. O prazer de ler EPC é independente do facto de estarmos ou não de acordo com o que exprimia na sua escrita. Muito poucas pessoas são capazes de escrever sobre tudo com a aparente leveza e a agilidade e elegância com que EPC o fazia. Faz-me falta e isso é a melhor homenagem que lhe posso fazer.
<b>3. </b>Nas últimas semanas verificaram-se diferentes acidentes de viação no nosso distrito, todos eles com graves consequências em número de mortos e de feridos graves. Imprevidência e excesso de velocidade, em algumas circunstâncias acolitadas por excesso de consumo de álcool. Uma tríade terrível, recorrentemente presente. A imprevidência tem a ver com a maturidade ao volante de cada um de nós, pode ser momentânea e ter consequências terríveis, mas pouco mais se pode fazer para a evitar do que ser persistente na sensibilização e rigoroso na penalização de incidentes minor em que se comprova que a ela se deveram. Mas no que respeita ao álcool e ao excesso de velocidade a questão é muito diferente. Durante o período de férias tive oportunidade de conduzir por estradas da República Checa e da Eslováquia. Onde os limites de velocidade (50 km/h nas povoações, 90 km/h nas estradas e 130 km/h nas auto-estradas) são impressionantemente cumpridos pelos condutores, sem que haja uma vigilância policial que dê nas vistas. Onde os automóveis têm de circular (inclusivamente em meio urbano) com os médios ligados nas 24 horas do dia. Onde existe tolerância zero (leram bem, sim, zero gramas /litro de sangue) face ao consumo de álcool por quem conduz. Não fui ver as estatísticas europeias. Mas souberam resistir à pressão de lóbis num país em que o consumo médio de cerveja é da ordem dos 160 litros/habitante/ano. Em países em que, de certeza, a mortalidade na estrada é inferior à nossa. É preciso é rigor e coragem política. Os resultados vêm depois e ninguém terá coragem de os negar.