Domingo à noite, sentada frente à televisão sem vontade de fazer nada de produtivo, perco-me no <i>zapping </i>pelos quatro canais disponíveis (os programas “da cabo” é uma das conversas que não vale a pena ter comigo). Enquanto começa e não começa qualquer coisa visível, o que já de si é uma coisa difícil, dou-me ao luxo de contar os anúncios a bancos que vão passando nos diferentes canais. É que agora, não sei se já se deu conta, mas todos temos um banco. Todos somos donos de um banco. É uma alegria. Sobem as taxas de juro, descem os bonificados, para quem ainda teve a sorte de os apanhar, qualquer dia uma unha encravada é impeditivo para fazer um empréstimo, mas, o que importa, é que o banco é nosso. É meu e é seu.
Começa então o Telejornal, o Jornal da Noite, o Jornal Nacional – bom é que nem vamos falar das notícias de abertura dos jornais televisivos que isso dava pano para mangas. Chega agora a vez do sr. primeiro-ministro em visita pelo Alentejo. E a coisa anima. É que é agora. É que é agora meus senhores que isto vai. E vai tudo. Vai o IP8, vai o aeroporto de Beja, vai o Empreendimento de Fins Múltiplos de Aquelva a “bombar” a 100 por cento – “há muitos investidores à espera”. E a gente ouve-o assim, tão confiante, tão confiável, que o melhor será prepararmo-nos para um dia destes acordarmos e a nossa rua, a nossa terra, o nosso Alentejo ser um mundo novo – os investidores a acotovelarem-se, os aviões a rasarem as nossas cabeças, os camiões TIR no IP8 e mais centenas de empresas a instalarem-se e com elas pessoas a fixarem-se e mais dinheiro e mais cultura. Calma, sr. primeiro-ministro. Não é preciso ser tudo assim de uma vez. Assim de rompante uma pessoa até fica tonta.
Vêm depois as notícias especial referendo, que é já daqui a poucos dias (por favor, vote) E é um pagode, à falta de melhor palavra para ilustrar algumas das coisas que temos visto e ouvido nos últimos dias. Desde se apelidar o aborto de pena capital, ao Estado Laico, às reportagens de apelar ao sentimento, aos empertigados que se benzem antes de dizer a palavra aborto e gostam muito dos pobrezinhos e dos pretinhos lá nos países onde há muita fomezinha e dos imigrantezinhos coitadinhos e levam consigo na marcha do “não” ao aborto o Partido Nacional Renovador – esse grande partido da tolerância, da solidariedade, dos valores humanos e da vida.
Lá acabam os jornais televisivos e chega o programa que diz que é uma espécie de magazine. Devo desde já dizer que sou uma pessoa, pelo menos assim me considero, com sentido de humor. Sei rir-me de mim, das desgraças, dos outros então rio-me que nem uma perdida. E ri-me também da versão que o Grupo Coral Os Alentejanos da Damaia cantou do “Eu ouvi um passarinho” lá no programa do Gato Fedorento. “Eu ouvi uma rave party…” Mas, humor à parte, e bem vistas as coisas, é ainda muito esta imagem que se tem do Alentejo. Cheio de contrastes entre aqueles que cá vivem, os homenzinhos e mulherzinhas “very tipical” e os senhores que cá vêm a comprar os montes e a divertir-se com as moto-quatro e as caçadas e a comer coisas boas e a ver os pastores e a ver morrer-se em Odemira à espera de médico.
Chega de televisão! Últimas diligências antes de dormir. Abrir as cartas das contas do banco (do meu banco, que me escreve imenso), da água e…pimba! Mais 1,25 euros na taxa de tratamento de resíduos sólidos.
Vamos à leitura sr. Haruki Murakami! Deito–me hoje com a ligeira, mas ligeiríssima, sensação de que anda alguém a gozar connosco.
PSD vai a votos em Ourique, Almodôvar e Odemira
Gonçalo Valente, Diogo Lança e Luís Freitas são os candidatos únicos à liderança das secções do PSD em Ourique, Almodôvar e Odemira, respetivamente, que vão