All I want for Christmas is me

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Ana Ademar

actriz

1. Quer se queira quer não, estamos no Natal. Outra vez. Uma tragédia que todos os anos se repete. É uma altura cansativa, dispendiosa e cansativa (já disse?!). E como se não bastasse o estrago que faz sozinho, ainda se cola com a passagem do ano, também ela cansativa (a obrigação de sermos felizes e estarmos numa grande festa com a malta mais divertida do mundo…). São quinze dias em que a sobrevivência da vida normal se vê ameaçada com compras, frustrações por não ter dinheiro, decisões de última hora para quem não planeia o revellion (finíssimo) com um ano de antecedência, problemas gravíssimos que invariavelmente acabam na frustração de não nos divertirmos tanto quanto sentimos ser obrigatório ainda que, no fim de contas, acabe por ser uma noite precisamente como as outras: divertida q.b., por norma com mais frio (porque a pessoa ainda que pouco tradicionalista quer ir aperaltada, o que nesta altura do ano significa passar um frio do caraças) e no dia seguinte o alívio porque já passou e a certeza de que para o ano há mais.

<b>2. </b>Por mais que me irrite o Natal, devo confessar que também me comove. As pessoas ficam boas, generosas, preocupadas com o seu semelhante. A adesão às campanhas de solidariedade multiplica-se num ano extremamente difícil como tem sido este e adivinhando-se um 2012 ainda mais complicado. Emociona-me a generosidade. Ainda que dure apenas 15 dias. Não pode ser Natal sempre que um homem quiser, a verdade é essa. As pessoas fartam-se desta obrigação de “sermos uns para os outros”. Aguentamos estes 15 dias e depois vamos à nossa vidinha, felizmente – porque ser bom também cansa.

<b>3. </b>Não sou grande coisa a fazer balanços, até porque sou, por natureza, bastante desequilibrada. No entanto, a loucura de 2011 exige-me a tentativa de, pelo menos, um esboço. Foi um ano longo, profundamente transformador e, no que me diz respeito, cheio de objectivos cumpridos, de compensações e de resultados visíveis. É verdade que trabalhámos muito – confesso que nunca tinha dado tanto o corpinho ao manifesto como este ano. Não será exagero dizer que a esta altura do campeonato estamos já todos a ultrapassar os limites do bom senso e a caminhar perigosamente para o lado de lá. No entanto, é bom que se diga que os resultados são visíveis. A Lendias d’Encantar fez muitas pessoas felizes este ano. O que não sendo palpável, é muito real.
A quantidade de actividades, de eventos, de pessoas envolvidas é brutal e é, sem qualquer dúvida, um trabalho a prosseguir. Independentemente das chatices, dos velhos do Restelo, da ignorância, da maldadezinha, da incompetência e do cansaço.

<b>4. </b>Foi um ano trabalhoso, tão trabalhoso que desde há cerca de três meses me sinto a funcionar numa espécie de piloto automático. Outra que não sou eu, tomou conta deste corpinho de sereia e vai comandando a vida que não é bem minha, mas é o mais parecido com isso. Eu estou em parte incerta ainda, quase alheia ao que se passa à minha volta. Apesar do nervoso miudinho que se instala debaixo da pele e me provoca gastrites, tenho de confessar que este ano tenho um pedido ao Pai Natal ou ao Menino Jesus: devolvam-me, tenho saudades minhas.

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