Nunca como nestas últimas duas semanas se falou de comboios na cidade de Beja. O motivo justifica-o. Que comboios iremos ter a partir do Verão para Norte e para Sul. Quantos, sob que forma, em que horários.
Começo pelo fim. Entendo que a CP deve ter uma função de coesão social do território. É uma empresa à qual não pode exigir que dê lucro. Se assim fosse, dezenas de linhas seriam abandonadas por esse país fora e a desertificação humana de certos pontos do território assumiria contornos ainda mais graves.
Dito isto, apresento alguns dados que nos devem levar a algumas reflexões :
De Beja para Sul, em direcção à Funcheira – Actualmente a circulação neste sentido é assegurado por duas comunicações diárias em automotora. Uma que parte de Beja, de manhã, e uma outra que vem das Alcáçovas pouco depois de almoço. Em média sabe quantos passageiros saem na Funcheira, destino final das composições? Dois! Dois passageiros. Nem sei o número de bilhetes vendidos, nem com que tipo de bilhetes se viaja nesta linha. Mas sendo a CP transporte público e mesmo sem observar o serviço prestado pela companhia do ponto de vista meramente comercial, temos de nos questionar se vale a pena ter uma automotora a circular que transporta em média dois passageiros por viagem. Olho para mim e pergunto-me: quantas vezes já viajei para o Algarve de comboio nos meus anos de vida? A resposta é fácil: zero. E você, leitor?
A Funcheira vive fundamentalmente dos quatro comboios Intercidades que diariamente, em cada sentido, ligam o Algarve a Lisboa.
Ainda assim, a CP fez uma proposta inicial à Câmara Municipal de Beja, agora retirada, que previa a circulação futura de duas composições Beja-Faro. Talvez por aí se inverta o movimento ferroviário entre o Baixo Alentejo e o Algarve. Talvez. Tentemos essa ligação e analisemos a evolução do número de passageiros para Sul. Se fracassar, teremos de equacionar o regresso a equipamentos de ligação, automotoras, ou mesmo ao fim da linha nesse sentido. Não considerar essa possibilidade a médio-longo prazo é estarmos a enganar-nos a nós próprios e a iludir os demais. Não me parece que haja substância, mesmo com o futuro aeroporto de Beja, para exigir a electrificação da linha para Sul;
De Beja para Norte, em direcção a Lisboa – A ligação de primordial importância estratégica para a cidade. Ultimamente, antes da suspensão do serviço, éramos servidos por dois comboios Intercidades, diários, em cada sentido, e por uma automotora diária que fazia uma ligação a Casa Branca para transbordo para um Intercidades que ligava Évora a Lisboa e vice-versa. Três ligações diárias portanto, duas directas e uma indirecta.
Agora com a electrificação da linha entre Bombel e Évora prevê-se que circulem cinco Intercidades entre Évora e Lisboa por dia, e que Beja tenha cinco ligações indirectas, através de automotoras, a Casa Branca. É natural que a CP, beneficiando da obra da REFER, pretenda optar por esta solução. O relação de custo de uma composição eléctrica comparada com uma composição diesel é de um para cinco. Na prática, um comboio directo de Beja para Lisboa irá ter um custo para a empresa semelhante aos cinco comboios de Évora movidos a electricidade.
Porém, alguém se esqueceu da electrificação da linha entre Casa Branca e Beja.
Confesso que não é o transbordo em Casa Branca que me indigna. Apesar do incómodo, são meia dúzia de metros. Nem se atravessa sequer qualquer linha. E ainda há curtos seis anos tínhamos de andar largas centenas de metros, com malas e demais bagagens, para os barcos, no Barreiro. O problema reside naquilo a que julgamos ter direito por parte da CP: segurança, qualidade e conforto. Ora uma automotora, mesmo melhorada face às horríveis versões anteriores, de ligação a Casa Branca transforma metade da viagem num curto inferno. Despejada de qualidade. Despejada de conforto. E quando forem cheias, como sucede aos domingos à noite, despejadas de segurança. A médio-prazo verificar-se-á, inevitavelmente, uma quebra acentuada do número de passageiros, a diminuição do número de composições e a falta de investimento na melhoria das condições da linha, em função dos números apresentados. Pescadinha de rabo na boca. Associado a este factor temos a substancial melhoria da qualidade e da quantidade dos Expressos rodoviários, disponibilizados pela rede nacional.
Fazem bem pois as pessoas de Beja em defenderem, em conjunto, os seus comboios. Os dados que existem, e que apresentei, não nos são favoráveis. Mas o transporte ferroviário é o melhor meio de transporte do mundo. Vejam as redes ferroviárias da França, de Espanha ou da Alemanha. Fabulosas. Com preços de bilhetes bastante mais caros que em Portugal, sublinhe-se também. Mas sempre com comboios cheios, ou quase. Oferecem segurança, qualidade, conforto e rapidez.
Nós queremos, e merecemos, fazer parte da rede ferroviária nacional que se exige. E temos de lembrar à REFER, mesmo conhecendo o seu magro orçamento para o ano que entrou, que trate Beja com dignidade. É tempo de lhes dizermos, como em tempos idos se fez em Alqueva, “Electrifiquem-me, Porra!”
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