A ULSBA não está doente

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Maria Vieira da Cruz Gião

administradora hospitalar da área de doentes, serviços gerais, serviço de urgência e serviço de medicina da ULSBA

Não venho de modo nenhum mostrar a minha solidariedade para com o conselho de administração (CA) da Unidade Local de saúde do Baixo Alentejo (ULSBA): os seus membros têm voz própria e não precisam de paladinos de ocasião.
Nas últimas semanas têm sido publicados na impressa local artigos de opinião sobre a ULSBA que são mais do que meros artigos de opinião sobre organização e financiamento. Sob o pretexto de reflexão sobre estes temas, pretende-se fazer considerações direccionadas à gestão e levantar questões que têm resposta fácil dentro da própria ULSBA.
É importante relembrar que ao longo dos anos a actividade e a gestão da ULSBA têm sido monitorizadas, questionadas, auditadas e avaliadas, de forma periódica e respeitando o legalmente estabelecido, mas também de acordo com o calendário das mais diversas instituições, por entidades tão variadas como o Tribunal de Contas, o IGAS, a ERS, a ACSS, a ARSA e a própria tutela. Para qualquer instituição de saúde esta situação tornou-se uma actividade corrente e são dadas respostas de carácter geral, mas também direccionadas a temáticas específicas, sempre de acordo com o que em cada momento é solicitado.
Levantar questões como as que têm sido levantadas e recorrendo ao canal utilizado, colocam em causa não só a ULSBA mas, e acredito que não intencionalmente, atingem todos os que aqui trabalhamos. Não é bom generalizar o despudor de comentar fora os assuntos que devem e só podem ser resolvidos internamente, principalmente quando nos queremos reger por princípios de sigilo e com a sobriedade que exigem os cuidados de saúde.
Com efeito, ao serem assinados por funcionárias desta instituição e dada a categoria profissional a que pertencem exigem um maior cuidado e análise, ou talvez não.
Não me vou debruçar sobre as hipotéticas teorizações apresentadas sobre um eventual modelo de organização da ULSBA nem sobre o seu financiamento ou variáveis e componentes: todos temos a noção e consciência que para além de todas a teorias e dissertações que possam existir fora de Beja sobre este tema na comunidade científica das áreas económica, de gestão ou de organização, em Beja e dentro da ULSBA o diagnóstico da área da saúde no Baixo Alentejo está perfeitamente efectuado e sabemos perfeitamente que problemas temos ou não e com que dificuldades lidamos e nos vamos deparar no curto e médio prazo.
Sou a primeira a reconhecer que muito há que fazer e que muito podíamos fazer melhor. Dizer o contrário é assumir que atingimos o famoso “princípio de Peter”: e estamos ainda muito longe de atingir o nosso limite.
No dia a dia, nos mais diversos serviços desta instituição, quer seja no atendimento dos cuidados primários quer seja no atendimento hospitalar, quer seja nos diferentes serviços que os apoiam, os mais variados profissionais dos mais diversos grupos profissionais estão cá para dar o seu contributo. Mais ou menos motivados? Neste momento cada um sabe o que o motiva na prática – mas a realidade é que é o doente que cuidam e atendem diariamente.
Não devemos banalizar mais a expressão de que temos que “colocar o doente no centro do sistema”: quem todos os dias olha nos olhos de um doente ou de um utente num centro de saúde ou Extensão, numa consulta externa, num internamento, numa urgência ou emergência, ou ao realizar um exame, dificilmente aceita que naquele momento não se esteja a centrar no doente e que independentemente de ser médico, enfermeiro ou técnico, assistente operacional ou administrativo, ou qualquer outra categoria profissional: o doente está no centro do seu trabalho.
Como já tem sido dito, estamos num momento em que mais do que tentarmos apontar o que os outros fizeram de errado ou não fizeram, chegou a altura de cada um de nós analisar o que podia e pode fazer melhor, qual o contributo que deu para o que está ao seu alcance melhorar ou para nem sequer se ter alterado.
A criação da ULSBA fez com que dois hospitais e 13 centros de saúde do Baixo Alentejo, com todos os profissionais que neles se encontravam, de repente, tivessem que aprender a viver e conviver de um modo diferente daquele que tinham até então, sem comprometer os cuidados aos doentes e utentes. Esperar que em três anos a coordenação seja total, que a cultura seja única, é querer o impossível: ainda nos faltam longos anos, talvez mesmo uma geração.
No entanto, em estudo apresentado pela ACSS no corrente ano sobre a Integração das Unidades Locais de Saúde, a ULSBA foi posicionada em segundo lugar na integração de serviços, a seguir à ULS de Matosinhos, que já com conta com 10 anos de antiguidade.
Estão a tentar ser dados passos firmes, com a lentidão necessária e com a rapidez possível, para que os centros de saúde se possam centrar na sua missão específica, para que os cuidados hospitalares se possam dedicar também à especificidade dos cuidados que prestam e para que a população do Baixo Alentejo compreenda em que local, para cada situação, deve ser atendido, isto é, para que possa procurar os cuidados adequados no local adequado. Os utentes e doentes têm que compreender que para que a ULSBA possa cumprir com o que dela é esperado, os nossos centros de saúde não se podem substituir aos centros de dia, a Urgência não se pode substituir à não utilização e recurso às consultas que têm disponíveis nos centros de saúde, o internamento não se pode substituir aos lares e às famílias…
Como vemos, o trabalho é de todos e para todos.
A ULSBA não está doente, mas aqui não nos esquecemos que lidamos com a saúde e principalmente com a doença, todos os dias dos nossos dias.

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