A propósito da política cultural em Beja

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

António Revez

Por causa da minha participação no programa da Rádio Pax “Conselho de Opinião” (edição de 6/11/2007), subordinado ao tema “A política cultural em Beja”, e das afirmações por mim lá proferidas, o sr. [José Filipe] Murteira, director do Departamento Sócio-Cultural da Câmara Mucipal de Beja [CMB] e director e programador do teatro municipal Pax Julia, quis conhecer-me pessoalmente, minutos antes da estreia da minha peça “Sangue Pisado”, pelos Lendias d´Encantar, e, em frente dos meus amigos e família, num tom afectado e indignado, contestar duas imprecisões em que incorri no referido programa, a saber:

<b>1. </b>Que a peça que eu afirmei ter sido “censurada” e não apoiada não foi o “Frio que faz na cama”, mas sim a “Bodas de Ferro”, cujo texto “alguém” fez chegar ao sr. Murteira, e que a decisão de não apoiar a peça não se deveu à existência de “palavrões”, mas porque ele, após análise do texto, entendeu que não era “adequado”… Não era “adequado” para ser representado nas freguesias rurais. E disse mais: que a comparação com a polémica “Saramago/Sousa Lara” foi a despropósito e que eu não podia emitir opiniões a respeito das suas decisões sem o conhecer pessoalmente.

<b>2.</b> Que a decisão da CMB não apoiar financeiramente a segunda edição do Festival do Amor não se deveu, ao contrário da minha avaliação, a “birra ou impertinência” pessoal do presidente do executivo camarário relativamente às pessoas do presidente da RTPD e director da produtora que produziu o festival, pois foi tomada em sede de reunião de Câmara, e, portanto, não foi uma decisão exclusiva do presidente, ao invés do que eu e outras pessoas supusemos, visto que é ele também responsável pelo pelouro da cultura.
Pois bem, agora que já conheço pessoalmente o sr. Murteira, já estou autorizado e legitimado para emitir opinião sobre as suas decisões, a saber:

<b>1. </b>O sr. Murteira não censurou o texto da peça “Bodas de Ferro”, claro que não! Ora essa! Apenas não o considerou “adequado”… Portanto, o sr. Murteira, que à data da sua decisão também não me conhecia de lado nenhum, deu-se ao direito e à presunção de avaliar um texto dramático previamente à sua representação, e deu-se à competência de ajuizar sobre a sua “adequação”, sem trocar uma única palavra com o autor. E, se não era pela existência de palavrões, a “inadequação” do texto tinha a ver com o quê?!… Ora como o sr. Murteira abriu este grave precedente, e dele não se mostra arrependido, eu espero que, em coerência, ele exija aos grupos de teatro que lhe submetam previamente o texto das peças à apreciação (ou que consiga obtê-los por “alguém”), e que decida o apoio a dar a esses textos em função do seu juízo de adequação/inadequação dos mesmos (se neste ponto da situação alguém se lembrar do Sousa Lara, é certamente uma comparação a despropósito…).
Refira-se ainda que o texto “inadequado” e “não apoiado” das “Bodas de Ferro”, foi, apesar disso, levado à cena, e representado em muitas freguesias, tendo sido entusiasticamente recebido pelo público por onde passou, como disso podem dar testemunho as mais de duas dezenas que actores que participaram na peça.

<b>2. </b>Em relação ao Festival do Amor, e tendo eu estranhado o nervosismo com que o sr. Murteira advertia insistentemente que a decisão de não apoiar financeiramente a segunda edição do Festival não se deveu a qualquer “birra ou impertinência” do presidente da CMB, ao mesmo tempo que mandava a “bola” para a reunião de Câmara, eu resolvi informar-me melhor. E ainda bem. E, agora que já consigo aceder ao site da CMB, fui ler a acta da reunião de Câmara de 25 de Julho de 2007. Lida a acta, manda-me a consciência duas coisas:

<b>a) </b>Pedir desculpas públicas ao presidente da CMB por ter sido injusto e indelicado com ele no programa “Conselho de Opinião”, pois existindo ou não “birras” ou menos bom relacionamento institucional entre o presidente do executivo e o presidente da RTPD, não foi isso que efectivamente determinou a decisão de não apoiar financeiramente o Festival do Amor.

<b>b) </b>O que determinou tal decisão foi a Informação de Serviço n.º 170/2007/PJ de 23 de Julho do Director do Departamento Sócio Cultural, sr. Murteira, que propõe, por motivo de “restrições orçamentais e financeiras da autarquia” “a não atribuição do apoio financeiro solicitado”. Estamos a falar do mesmo senhor que, na mesma reunião, e sem o argumento das restrições orçamentais e financeiras da autarquia, faz chegar um conjunto de mais onze Informações de Serviço onde propõe a atribuição de subsídios a diversas associações e entidades num valor total superior a vinte mil euros. Portanto, dos doze pedidos de subsídio, a única iniciativa (e talvez a mais importante) que não recebeu um único cêntimo da CMB foi o Festival do Amor… Cabe agora a cada um julgar se isto é censura, birra, discriminação, falta de seriedade política ou arbitrariedade de critérios.

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