A los 33 mineros de Chile

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Miguel Rego

arqueólogo

Como invejo a Vossa coragem, o Vosso sangue frio, a forma como Olham daí, do vazio da imensa escuridão das profundezas da terra, para a esperança que Esperam chegue da superfície. Como são Imensos nesse poço cego a 700 metros de profundidade. Vocês os trinta e três mineiros chilenos, homens que qualquer um de nós queria ter como amigos ou irmãos.
Como somos tão pequenos na impotência de vos tirar desse mundo interminável de túneis onde se sucedem horas infindáveis de eternidade, vestidas de morte, choro, dor, exaustão, desespero.
Daqui de cima, pouco mais vos deve chegar que a nossa indiferença… que os nossos olhares meio furtivos, meio condescendentes, com uma pitada de piedade pela Vossa existência e por nos obrigarem a olhar ao rente sujo do subsolo, para saber se ainda estão vivos. Como vos invejo. Como gostaria de estar aí em baixo a gritar esperança, vida, dor, nojo e coragem, de forma que fosse o próprio planeta a sentir um tremor tamanho que se sentisse obrigado a arrancar às suas entranhas ressequidas a Vossa coragem e a trazer-Vos para mais perto da Vida.
Por favor, Resistam. Os Vossos braços tensos de puxar o minério, os Vossos olhares enegrecidos pela poeira e pela escuridão, são a linha tensa da Vossa existência e são elas que Vos têm que dar a coragem para combater a infame inconsciência e brutalidade da morte. Queremos que Vivam connosco para eternidade na eternidade das nossas vidas. Na eternidade da vida de cada um de nós. E para isso, precisamos de Vocês aqui. A continuar a engordar os sinistros construtores do desenvolvimento assentes na dócil imaginação de que a riqueza é de todos, mas aqui.
A 700 metros de profundidade, estão vocês, os 33 mineiros chilenos. E ainda bem que não sabem que a maioria de nós não sofre a Vossa ausência; a Vossa dor, o suor dos Vossos corpos exaustos e o grito desesperado dos Vossos filhos, dos Vossos familiares, dos Vossos amigos. Mas eu estou com vocês. Na distância, sou mais um de vocês a encher de vida o momento ténue que nos separa da partida. Queremos o Vosso regresso, porque Vocês são imensos. Porque vocês são o que resta para que a Esperanza Ticona seja mais uma voz contra a indiferença. Tu hija, compañero Ariel, tu Esperancita… te está esperando.
Como é imenso o nosso silêncio!

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