Ao longo de séculos o mundo tem vindo a ser confrontado com diferentes sistemas/regimes políticos, das monarquias às ditaduras de esquerda e de direita até à chegada da democracia. Apesar de algumas imperfeições na aplicação do sistema democrático, é sem sombra de dúvida este o melhor método de governar um país pois dá a oportunidade ao povo de escolher os seus governantes.
Contudo, e com base nas suas imperfeições, este sistema governativo produz descontentamento nas sociedades que nem sempre aceitam as suas decisões, principalmente as gerações mais jovens. Portugal não foge à regra e deparamo-nos actualmente com uma geração à rasca que contesta. São jovens que concluíram as suas licenciaturas e que procuram o primeiro emprego.
Feito o diagnóstico, o que se verifica é que nunca uma geração foi tão privilegiada como esta onde nada lhe falta e nada lhe foi exigido. Tudo se deve a uma geração de pais, nos quais eu me incluo, que educámos os nossos filhos numa abastança e num modelo de vida facilitado, protegendo-os das dificuldades e nunca lhes ensinámos o caminho que tinham de percorrer ao longo da sua vida activa.
O curso da vida não é só feito de rosas mas também de espinhos. Esta geração de pais, talvez deslumbrados por uma melhor qualidade de vida, entrou em delírio convencidos que eram ricos dada a facilidade de conseguir dinheiro através das paredes de qualquer prédio utilizando um simples cartão. E quando um não chegava, adquiríamos outro. E como os cartões de crédito são atraentes e de várias cores e feitios, adquiríamos também uma carteira. E quando esta não chegava, mais uma carteira para os acomodar! Os supermercados e os bancos também nos enviavam mais uns cartões para casa para completar a colecção. Depois de esgotado o plafond dos cartões acabávamos por gastar ainda a conta ordenado. Tudo isto para não faltar dinheiro aos nossos filhos, porque fazia falta para concluírem as suas licenciaturas nalgumas situações até aos 30 anos, comprar a moto, o automóvel, o telemóvel, não faltar aos concertos de norte a sul do país, as roupas de marca, as discotecas e os bares, mais algumas mordomias onde tudo se paga. E agora que a “teta secou e não dá mais leite” … o que é que vamos fazer?!
Temos que reconhecer que educámos mal e agora a frustração da impotência apodera-se de nós porque já não temos que chegue para nós e para as exigências a que habituámos os nossos filhos. Estão tão à rasca os filhos como os pais.
A geração rasca foi a minha, e talvez a dos que me antecederam, que de uma forma transversal fomos vítimas da fome, da miséria, do trabalho infantil, sem acesso à educação, ao emprego no interior, sendo as únicas saídas o trabalho no campo, salvo algumas excepções. A falta de liberdade vivendo num regime de ditadura que durou mais de 50 anos. Na infância faltavam os brinquedos, restavam-nos os jogos tradicionais como o jogo à “pintenela”, o “bazero”, o “pião”, a “malha” e das “mães para os filhos”. As raparigas jogavam ao “cura” separadas dos rapazes. E jogávamos também à bola, mas com uma bola de trapo feita à base de meias de linha, que as mulheres usavam no desempenho das tarefas agrícolas. Fazíamo-lo de pé descalço e com isso criávamos uma robustez nos pés que desferíamos remates a mais de 50km por hora sem nos magoarmos. Mas quando o pontapé era mal calculado e apanhava uma pedra… lá ficava um pedaço do dedo!
Em plena ditadura surgiu o conflito armado em África, mais conhecido pela Guerra do Ultramar ou Colonial. Durante 15 anos um milhão de jovens portugueses combateram nas províncias de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Segundo dados oficiais, as três frentes de combate causaram a morte a 8.290 militares, jovens de 20 anos aproximadamente. Isto para além de milhares que ficaram com deficiências físicas para o resto da vida. Relembro que todos os jovens eram obrigados a cumprir o serviço militar obrigatório por um período de 36 meses, sem remuneração, o que prejudicou muito as suas vidas. Estávamos no período de iniciar a vida activa, o acesso ao emprego, a constituição de família. Também sentimos os efeitos do FMI nos anos de 1977 e 1983, só não tivemos o PEC 1, 2, 3 e o 4… Mas tivemos o PREC!
No entanto, apesar de todas estas dificuldades, foi esta geração que mudou a face ao mundo. Para a história ficará o contributo dos Beatles para a música, a inovação tecnológica, as telecomunicações, o inicio da era dos computadores, as acessibilidades, as enormes melhorias na saúde e na área social, e essencialmente na formação e qualificação das pessoas. Será injusto rotular apenas esta geração como aquela que deixou uma pesada herança para as gerações vindouras.
Chegou a hora de acabarmos com os conflitos geracionais. Na actual situação de crise que o país atravessa, é tempo de unir e não divergir. Portugal precisa de todos nós, jovens e menos jovens, para tirar o nosso país, com mais de oito séculos de história, desta crise em que se encontra. Temos que dar as mãos. Transformar as adversidades em oportunidades, em prol do nosso país e do seu desenvolvimento. Para o conseguir temos que ser inovadores, criativos e empreendedores. Tendo nós uma geração de jovens muito bem preparados, falta-lhes voz activa, participar mais na vida política militando-se nos partidos políticos para fazerem valer as suas ideias, as suas sugestões, colocando assim todas as suas capacidades e energias ao serviço do país. Só participando se pode criticar!
Pecuária extensiva luso-espanhola debatida em Ourique
As alterações climáticas, o declínio do montado ou o mais recente surto da doença da “língua azul” nos rebanhos dos dois lados da fronteira são